Histórias da Medicina Portuguesa

No termo de uma vida de trabalho, todos temos histórias a contar. Vamos também aprendendo a ler a História de um modo pessoal. Este blogue pretende viver um pouco da minha experiência e muito dos nomes grandes que todos conhecemos. Nos pequenos textos que apresento, a investigação é superficial e as generalizações poderão ser todas discutidas. A ambição é limitada. Pretendo apenas entreter colegas despreocupados e (quem sabe?) despertar o interesse pela pesquisa mais aprofundada das questões que afloro.
Espero não estar a dar início a um projecto unipessoal. As portas de Histórias da Medicina estão abertas a todos os colegas que queiram colaborar com críticas, comentários ou artigos, venham eles da vivência de cada um ou das reflexões sobre as leituras que fizeram.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

LEONARDO DA VINCI - O ANATOMISTA

TERCEIRA PARTE - A REPRODUÇÃO

   A minha representação do corpo humano será para ti tão clara como se tivesses o próprio corpo diante de ti.




Neste desenho de grande formato, Leonardo faz uma síntese do que aprendeu, ilustrando a situação relativa dos órgãos no interior do corpo e as suas inter-relações. Alguns detalhes desta obra magnífica mostram que não compreendia as funções exactas dos órgãos desenhados. Os avanços da Fisiologia iriam demorar séculos.


Os seus primeiros estudos anatómicos não se apoiaram ainda na dissecação de cadáveres. Os desenhos produzidos na idade madura já assentaram na observação cuidada de corpos humanos dissecados. Os conhecimentos do anatomista provêm dum esforço de compreensão visual dos factos. Os textos servem as imagens, em lugar de se servirem delas. Como se vê, resultam pobres, faces à exactidão das imagens.



Considero assombrosa esta representação de uma cópula humana, em corte sagital. Que eu saiba, nenhum anatomista foi tão longe. Embora esquemática, a gravura ilustra bem parte da enervação e da vascularização dos órgãos sexuais masculinos.
Tanto quanto sei, Leonardo fez a primeira dissecação de um útero humano grávido da História da Medicina. As considerações que acompanham o desenho devem ter em consideração as ideias da época.




No caso desta criança, o coração não bate e não respira, porque está permanentemente dentro de água. Se respirassem morreria afogada, e a respiração não lhes faz falta, porque a vida é alimentada através da vida e da alimentação da mãe. Os dois corpos são governados por uma única alma. 

A experiência e os anos de observação permitiram a Leonardo da Vinci alcançar um rigor antes desconhecido na reprodução gráfica da Anatomia humana. Ouçamos Johannes Nathan:

Leonardo deve ter tido perfeita consciência de que as suas descobertas inéditas ultrapassaram em muito os conhecimentos não só dos artistas mas também e sobretudo dos peritos em Anatomia. Teria de se aguardar a publicação da obra de referência de Vesálio " De Humani Corporis Fabrica, em 1543, para que a ciência anatómica do Renascimento se elevasse quase ao nível dos estudos que datam da maturidade do artista."





Referências:
Os apontamentos de Leonardo da Vinci, organizado por H. Anna Suh, Parragon Books Ltª.
Leonardo da Vinci, Desenhos e Esboços, Franz Zollner, TASCHEN.




















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