sábado, 21 de fevereiro de 2015

             
                      JOAQUIM BARRADAS

     A ARTE DE SANGRAR

                DE CIRURGIÕES E BARBEIROS
           


O título do livro induz em erro. Joaquim Barradas não se limita a estudar a história da sangria. Ao longo das 247 páginas do seu trabalho, resume a história da Medicina, de Hipócrates ao dealbar da época modera. Cirurgião que é, defende a sua dama, sem deixar de atentar nas grandes conceções de que enfermou a nossa Arte, dando realce à descrição crítica da teoria dos humores. Presta a atenção devida aos estudos anatómicos, à emancipação da Cirurgia em França e à sua prática no Hospital Real de Todos os Santos. Refere o passado da sangria, mas também do seu presente, ao citar o tratamento da Policitemia rubra vera.


Voltarei a tratar deste livro interessantíssimo, num futuro próximo. Nesta introdução, irei sublinhar apenas as duas indicações que o autor defende para a prática da sangria nos tempos antigos: o tratamento das hérnias encarceradas e estranguladas e os ferimentos em combate. 
Nas hérnias estranguladas, o relaxamento muscular obtido pela extravasão de sangue levado até à perda de consciência permitiria «manipular a hérnia e forçar o intestino para dentro da cavidade abdominal». 
As motivações para a sangria dos que caíam na luta eram bem diferentes e aproximavam-se da eutanásia, ainda que não seja certo que essa intenção tenha estado sempre presente na mente dos cirurgiões de batalha. Passo a citar Joaquim Barradas.  


No fim da batalha, muitas vezes, ficavam milhares de feridos no terreno, que chegavam a passar uma noite inteira ao relento, sem assistência, tendo por companhia milhares de mortos e os lamentos dos companheiros igualmente feridos. No ar, um cheiro adocicado a sangue ajudava a compor o inferno…  … A sangria iria prejudicar a recuperação dos feridos e afetar a sua robustez, contribuindo para agravar o estado geral… … Na ausência de outras formas de aliviar o sofrimento, sem dúvida que a sangria foi benéfica para muitos soldados… … A sangria feita no campo de batalha embotava a perceção da dor e provocava alguma obnubilação que transportava os soldados para um nível de consciência que, de alguma forma, os afastava do sofrimento…


A ser assim, tratava-se de um modo de exercer a piedade. As Valquírias tornavam-se bem-vindas. 

Imagens: Capa do livro e Internet.

Editora: Livros Horizonte, 1999.

3 comentários:

  1. Felicito Dr. Joaquim Barradas por este livro essencial para quem se interesse pela História da Medicina!

    Abraço Dr. António Trabulo!

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  2. Felicito o Dr. Joaquim Barrada (excelente clínico).Joel Rodrigo Ferreira Silva (de Setubal) Fui seu doente através da Dra e foi comigo que fez das primeiras intervenções no tratamento de hérnias do esófago (fundoplicatura de Nissen)

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  3. sou barbeiro.tenho 30 anos de idades...mi emociono quando.vejo historia e sinto que posso ir alem !ser medico!

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