OS
MÉDICOS DA PESTE
No começo da Idade Moderna, na Europa, já se reconhecia empiricamente a importância de proteger o nariz, a boca e os olhos contra as infeções. Assim, para se
defenderem dos miasmas supostamente existentes no ar fétido, alguns médicos
usavam máscaras inspiradas em bicos de aves. No seu interior eram colocadas
substâncias aromáticas. O lugar dos olhos era preenchido com lentes de vidro.
É
curiosa a associação das substâncias com bom cheiro à ação desinfetante. A ideia
poderá ter nascido do contraste com o cheiro pútrido da matéria orgânica em
decomposição. Usavam-se, entre outras substâncias, a hortelã, a cânfora e a
mirra. A palha servia de filtro para o ar contaminado.
O
traje era completo, com botas, luvas, blusa e chapéu, geralmente em couro de
cabra. Cobriam-se com um sobretudo de pano grosso.
A sua utilização reduziu-se no século XVIII. As máscaras cirúrgicas dos nossos
dias tiveram origem quando se começou a desenvolver a bacteriologia.
Existiram
médicos da peste um pouco em toda a Europa. Foram conhecidos, pelo menos na
Itália, na Holanda, na Espanha e na França.
Eram
contratados pelas cidades atingidas pelas epidemias e deveriam tratar ricos e
pobres. Os seus serviços eram considerados valiosos e valeram-lhes alguns
privilégios, como o de praticar autópsias, proibidas em muitos países. Como
seria de esperar, alguns contraíam a doença no exercício da profissão e
acabavam por falecer.
Os
médicos da peste usavam bastões para poderem examinar os doentes sem os tocar.
Uma das suas obrigações consistia em proceder ao registo dos vitimados pela
praga. Em muitos casos, foram testemunhas das últimas vontades e,
frequentemente, testamenteiros.
Os
métodos terapêuticos eram os da época: praticavam sangrias e colocavam
sanguessugas nas adenopatias. Muitas vezes as suas funções obrigavam-nos à
quarentena.
Embora
o cargo tenha sido desempenhado por nomes sonantes da História da Medicina, de
modo geral, esses clínicos eram considerados médicos de segunda categoria. Na
França e na Holanda, não dispunham mesmo de qualquer formação médica.
Quase
todas as regras conhecem exceções.
Guy
de Chauliac, médico do papa Clemente VI, foi dos primeiros clínicos a
investigar a doença. Acabou por morrer dela.
Guy de Chauliac praticando a autópsia de o corpo dum falecido com peste negra.
O famoso Nostradamus deu conselhos interessantes para combater a peste: os cadáveres deveriam ser removidos rapidamente e convinha respirar ar puro e beber água limpa. Nostradamus opôs-se à sangria dos pestiferados.
Paracelso e Ambroise Paré desempenharam também as funções de médicos da peste.