Foi ontem apresentado na sede da Ordem dos
Médicos, em Lisboa, o segundo volume de
MÉDICOS: NEM DEUSES, NEM DEMÓNIOS, a continuação da homenagem ao grande
escritor português e antigo membro da direção da SOPEM, Fernando Namora.
Por estar convalescente duma virose
respiratória alta pouco grave mas muito contagiosa, não participei na
cerimónia.
A edição foi financiada pelo Conselho Regional do Sul da nossa Ordem, a quem agradecemos.
Tal como aconteceu com o primeiro volume, esse facto impede a comercialização do livro e limita seriamente o número de exemplares a distribuir pelos autores. Pudemos apenas aumentar a tiragem de 100 para 150 exemplares. O Rogério Palma Rodrigues sugeriu que fizéssemos uma edição paralela em e-book. Estou disposto a colaborar nesse projeto.
Aos coautores desta obra (que coordenei) o meu agradecimento.
Escolhi para título da minha colaboração
“JOÃO SEMANA”. Para além de homenagear o nosso colega Joaquim Gomes Coelho, que
eternizou o pseudónimo de Júlio Dinis,
pretendo com ela prestar tributo a todos os homens e organizações que ao longo
de vários séculos precederam o Serviço Nacional de Saúde, tratando os
portugueses pobres. Foram essencialmente os hospitais das Misericórdias e os
médicos dos partidos municipais.
A preocupação com a saúde dos desfavorecidos
nasceu na Roma antiga. Entre nós, deu origem a um movimento que atravessou a
Monarquia Absolutista, a Monarquia Constitucional, a Primeira República, a
Ditadura e a nossa segunda República. Segundo Ribeiro Sanches, que foi médico
municipal em Benavente pelos 24 anos de idade, “foi no tempo del Rei D. Manuel
(reinou entre 1495 e 1521) que se fundaram as Misericórdias com Hospitais… … e
me parece que desde aquele tempo se estabeleceram os partidos das câmaras.
É costume atribuir ao Doutor António Arnaut a
criação do Serviço Nacional de Saúde. Presto-lhe a merecida homenagem, mas seria
injusto ignorar as figuras que o precederam.
Sou testemunha desse processo. Juntamente com
três centenas de colegas, entrei para o Internato Geral dos Hospitais no dia 1
de abril de 1969. Pus assim termo a mais
de meio ano de desemprego. Antes do 25 de Abril, trabalhei como médico em
Postos da Caixa de Previdência. Os cuidados prestados eram já gratuitos e quase
universais.
Mesmo no antigo regime, houve homens de valor que procuraram reformar o sistema por dentro. Será bom não esquecer os nomes de Lopo Cancela de Abreu, Baltazar Rebelo de Sousa e Francisco Gonçalves Ferreira. Os dois primeiros foram ministros da Saúde e Assistência de Marcello Caetano e Gonçalves Ferreira foi Secretário de Estado de Baltazar Rebelo de Sousa.
Com algum atraso, o poder político deu seguimento ao notável “Relatório das Carreiras Médicas” , apresentado em 1961, por um grupo de médicos ilustres encabeçado por Miller Guerra.
Tive o prazer e a honra de conhecer três dos
subscritores do relatório: Alves Pereira, Ramos Dias e António Galhordas ,
médicos dos Hospitais Civis de Lisboa. O documento realçava o facto lamentável
de haver em Portugal médicos sem emprego e doentes sem assistência.
O decreto-lei 48879, de 22/2/69 instituiu nos
hospitais centrais o Internato Médico generalizado. O aproveitamento no
primeiro ano do internato geral remunerado passava a ser necessário para a
atribuição da licenciatura em Medicina.
O Regulamento do Internato Médico foi
estabelecido pela portaria 240/70 .
Lembro que os partidos médicos apenas foram
extintos de abril de 1984.
Os anos já me pesam, mas gostaria que este
tipo de iniciativa tivesse seguimento e que a SOPEAM prosseguisse na
organização de trabalhos coletivos que homenageassem os Médicos que
enriqueceram a literatura portuguesa. São muitos e ilustres. Não sei se os
médicos dos outros países se poderão orgulhar de ter tantos e tão bons. Sem
pretender ser exaustivo, lembro nomes que me ocorrem: Júlio Dinis, Fialho de
Almeida, Júlio Dantas, Jaime Cortesão, Graça Pina de Morais, Miguel Torga e,
mais recentemente, António Lobo Antunes. Estarei a pecar por omissão. Ficaria
bem à nossa Ordem continuar a apoiar estes projetos.
Procurarei, ao longo das próximas semanas
divulgar neste espaço as contribuições dos diversos autores.