Numa tarde de quinta-feira, eu estava de banco em S. José.
Ao percorrer um dos longos corredores do hospital encontrei-me com o Vítor. Era cirurgião geral e teria dois ou três anos mais do que eu. Dávamo-nos bem.
Dessa vez, saudou-me de modo esfuziante. Era como se tivessem passado anos sem nos vermos, quando tínhamos estado juntos na Urgência da semana anterior.
Deu-me um grande abraço. Mal me deixou respirar, perguntou:
- Trabulo! Estás mesmo bem?
Eu ficara espantado com o ênfase da recepção.
- Estou. E tu?
Trocámos algumas frases e seguimos os nossos caminhos. Encontrei-o de novo, um par de horas mais tarde, no bar. Era outra vez o Vítor de sempre, bem-humorado e tranquilo.
- Desculpa lá, Trabulo, a minha reacção de há pouco. Tinham-me dito que tinhas morrido.
Ri-me. Não era a primeira vez que aquilo acontecia. Alguns anos antes, em Setúbal, tinha corrido largamente o boato da minha morte. Uma doente pouco sensata telefonou mesmo lá para casa e perguntou à minha mulher:
- É verdade que o Senhor Doutor morreu?
Felizmente, eu tinha acabado de sair, cheio de saúde.
Ao entrar no Posto Médico julguei surpreender expressões de assombro em alguns rostos. Era como se estivessem a ver um fantasma, mas eu não podia adivinhá-lo.
Contaram-me a história mais tarde. Sei de velhinhas que choraram por mim. Não consta que raparigas novas tenham vertido alguma lágrima.
Foto: Internet.
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