Na tradição cultural africana, os espíritos assemelham-se aos seres viventes. Uns são bondosos e outros egoístas e mal-humorados. Podem ceder alguns poderes aos vivos. São capazes de ajudar a resolver problemas, com a doença ou o mal causado pela inveja, mas são também vistos como causadores de infortúnio.
Na forma de pensar dos povos Bakongo, que habitam a vizinhança do rio Zaire, um Nkisi representa, no mundo visível, um espírito do reino dos mortos que aceitou, ou foi levado a aceitar, vir para este lado. Os humanos conseguem algum controle sobre ele, através de rituais. O sacerdote que dirige a cerimónia ritual é o nganga do Nkisi.
A correspondência ao onganga do sul de Angola, parece imediata. Segundo o padre Carlos Estermann, onganga é o detentor de ouanga, um poder mágico nocivo utilizado para causar doença e morte entre os homens e por vezes entre os bois. Com pequenas variantes, o termo é comum em diversas línguas de Angola.
O Nkisi é o suporte físico da força e do poder espiritual. Pode ter a forma de estatueta. Os Minkisi (plural de Nkisi) têm relicários com espelhos e receptáculos variados, habitualmente pequenos sacos presos ao corpo, contendo medicamentos, geralmente de origem vegetal, chamados bilongos ou milongos.
Segundo os Nkongo, se um Nkisi perde os remédios, ou se o padrinho nganga morre, fica esvaziado do seu poder espiritual e volta a ser um objecto mais ou menos decorativo. Sorte para mim e para os meus bonecos...
O Nkisi Nkondi, estatueta ritual figurada de pé, ergue de forma ameaçadora um dos braços, por vezes armado de uma faca ou de uma lança. É considerados guardiões dos bons costumes.
Nkondi significa caçador. Durante a noite, vai à caça de feiticeiros e de ladrões. Persegue também adúlteros e outros infractores das regras sociais.
Nkondi significa caçador. Durante a noite, vai à caça de feiticeiros e de ladrões. Persegue também adúlteros e outros infractores das regras sociais.
Não me encontro em condições de garantir a proveniência nem a autenticidade das minhas estatuetas. Julgo tratar-se de imitações.
A boneca barbada cravejada de placas de ferro e de parafusos mede 60 cm de altura e mostra uma expressão triste no rosto. Os dentes incisivos superiores estão limados em V, o que poderá eventualmente facilitar a identificação do seu local de origem.
O meu Nkisi deveria, em tempos, segurar uma azagaia. Vai perdendo a cabeleira de pelo de macaco e tem o joelho esquerdo adiantado, facto comum na estatuária europeia, mas alheio à tradição cultural africana. É seguramente uma obra recente, com influência dos colonizadores. Está carregado de saquinhos contento os bilongos habituais e apresenta na barriga o conveniente relicário tapado com um espelho.
Fontes: Carlos Estermann - Etnografia de Angola. Instituto de Investigação Científica Tropical, Lisboa, 1983.
Wyatt Macgaffey - Os Kongo. Em: Na Presença dos Espíritos.
Arte Africana do Museu Nacional de Etnologia. New York e Lisboa, 2.000.
Fotografias: 1 - Na Presença dos Espíritos.
2,3 e 4 - Colecção do autor.
2,3 e 4 - Colecção do autor.
Excelente! Felicito-o!
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