MEDICINA EM MACAU
VIII
SUN YAT SEN
Escrevi aqui anteriormente
sobre Sun Yat Sen. Volto a fazê-lo, no termo desta pequena série de
artigos.
O “pai” da República
chinesa nasceu a 12 de novembro de 1866 em Choy Heng, na província de Cantão,
cerca de 30 milhas a norte de Macau. O seu pai trabalhou em Macau antes do
nascimento do filho. Segundo Manuel Teixeira, foi alfaiate. Outras fontes
dão-lhe a profissão de sapateiro.
Quando fez 13 anos, Sun
Yat partiu para Honolulu, no Hawai, onde trabalhava o seu irmão mais velho, Sun
Mei. Estudou ali durante três anos e regressou depois a Choy Heng, onde
passaria pouco tempo. Em 1883 mudou-se para Hong Kong onde prosseguiria os seus
estudos, protegido por uma igreja protestante. Foi mesmo batizado. Iniciou o
curso de Medicina em Cantão e prosseguiu-o em Hong Kong. Licenciou-se em 1892.
Nesse mesmo ano, foi trabalhar para Macau, no Hospital Keng-Wu, como médico voluntário.
Foi na cidade portuguesa
que Sun Yat Sen deu início à sua ação revolucionária.
Cabe-nos, porém, falar do médico.
Cabe-nos, porém, falar do médico.
O Dr. Sun viveu no prédio
nº 14 do Largo do Senado. A casa já não existe. Foi arrasada para dar espaço ao
edifício dos Correios.
Quando deu os primeiros passos na profissão,
os chineses mostravam ainda grande relutância em aceitar os médicos europeus. O
Hospital Keng-Wu tratava mais doentes que os Hospitais de S. Rafael e S.
Januário juntos.
Formado aos 26 anos, na
Faculdade de Medicina de Hong Kong para chineses, Sun Yat Sen contribuiu para
introduzir a medicina europeia no Hospital Keng-Wu onde, até essa data, os médicos
trabalhavam segundo a tradição chinesa. Praticou também cirurgia, ajudado muitas
vezes pelo seu antigo professor do Medical
College de Hong Kong, Dr. James Cantlie, que se deslocava a Macau
propositadamente para o apoiar.
O Dr. Sun montou consultório na Rua das Estalagens. O prédio onde trabalhou foi, até há poucos anos, ocupado pela loja de sedas “U Tip P´at T´au”. De dia, tratava doentes. À noite, conspirava contra a dinastia manchu.
Uma nota curiosa, transcrita pelo Padre Manuel Teixeira, respeita à cobrança de honorários. No começo de 1894, Sun Yat Sen contratou o advogado António Joaquim Basto para cobrar a dívida duma família chinesa conhecida. A conta era de 100$ (ao sei se o sinal $ se refere a dólares ou a patacas), acrescida de 25$ para pagar os serviços do jurista. A dívida foi liquidada.
Segundo o Dr. Cantlie, Sun
teve de deixar Macau por não possuir um diploma português para o exercício da
Medicina. Mudou-se para Cantão. O testemunho provoca-me alguma estranheza, pois
é duvidoso que boa parte dos médicos que praticavam em Macau medicina chinesa fosse
tão bem controlada. Seria a política que o chamava. Antes, tornara-se impopular
entre os seus colegas e a administração do Hospital Keng-Wu: o seu sucesso clínico
aumentara substancialmente o número de doentes que procuravam o hospital, com o
consequente incremento das despesas.
O hospital chinês tinha
sido fundado em 1871. Mais do que hospital, era uma organização de beneficência
sustentada pelos chineses ricos de Macau. Para além de proporcionar consultas,
internamento e remédios, a fundação recolhia cadáveres e dava-lhes sepultura
gratuita, reparava as ruas da cidade, socorria os sinistrados, sustentava
escolas e resolvia querelas entre o povo. Vendia também arroz a preço baixo à
gente carenciada.
Antes de partir, o Dr. Sun
pediu ao hospital Keng-Wu um empréstimo de 2.000 patacas para montar uma farmácia
sino-europeia na rua onde estabelecera o consultório. Seria pago anos mais
tarde.
Mansão evocativa de Sun Yat Sen em Macau
Mansão evocativa de Sun Yat Sen em Macau
De modo geral, Sun Yat Sen
era acarinhado pela comunidade chinesa e bem aceite pelos portugueses.
Relacionou-se com o macaense Francisco Hermenegildo Fernandes, que trabalhava
na Imprensa, ainda na época em que estudava em Hong Kong.
O seu primeiro grande
ensaio político - Carta a Zheng Zaoru - foi publicado num jornal de Macau em
1890.
Após a morte de Sun Yat
Sen, a sua viúva Cheng Ling Soong, cunhada de Chiang Kai Chek, veio para Macau
e viveu na Rua de Silva Mendes, até falecer em 1952, com a idade de 88 anos.
Fonte: Padre Manuel Teixeira, A Medicina em Macau. Governo de Macau, 1998.
Fotografias: Internet.
Fotografias: Internet.
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