SERENDIPIDADE
E
OUTRAS HISTÓRIAS DA MEDICINA
Joaquim Figueiredo Lima é
um trabalhador incansável. As suas publicações sobre temas de História da
Medicina repetem-se a um ritmo assinalável. Brinda-nos agora com “Serendipidade
e outras histórias da Medicina” (Chiado Books, 2018).
O autor explica que o
termo “serendipidade” nos remete para o escritor inglês Horace Warpole que,
numa carta a um amigo, se refere a um livro intitulado “ A Peregrinação dos
três filhos do rei de Serendip”. Serendip é o Ceilão, a Tapobrana dos Lusíadas,
o atual Sri Lanka. Enquanto viajavam, os três príncipes iam descobrindo coisas
que não procuravam.
O termo “Tapobrana” aparece,
pela primeira vez, na “Geografia” de Claudio Ptolemeu, matemático, astrónomo e
cartógrafo da Escola de Alexandria. Terá nascido por volta do ano 70 da era
cristã e vivido durante os reinados de Adriano e Antonino Pio. Há quem julgue
que a grande ilha de Tapobrana que ele descreveu e desenhou não tinha
existência real. Outros consideram que o geógrafo amalgamou nela uma série de
ilhas mal conhecidas.
Mapa de Ceilão na época de Camões
Para sublinhar a
importância do acaso, que tem colocado em frente dos olhos de observadores
sagazes factos simples que conduziram a avanços científicos relevantes,
Figueiredo Lima lembra Arquimedes e o seu “Eureka”, que enriqueceram a Física
com o conceito de impulsão; conta a história da maçã que Newton terá visto cair
da árvore e que conduziu à descoberta da força da gravidade; adentrando a área
da Medicina, recorda Alexandre Fleming, que soube valorizar a limitação do
crescimento de bactérias em redor dos bolores desenvolvidos nas placas de Petri
durante as suas férias, facto que o pôs no caminho da descoberta da penicilina.
Como seria de esperar de
um Médico que dedicou à Anestesia o essencial do seu percurso profissional, a
maioria dos 35 capítulos deste livro é dedicada ao combate à Dor.
Figueiredo Lima não
esquece, contudo, outras áreas da Medicina. Na história saborosa intitulada “As
moscas na urina do cão” conta como elas levaram à identificação do açúcar na urina
de um animal e orientaram Mering e Minkowski para a descoberta
da insulina. Curiosamente, tive conhecimento, há cerca de uma dúzia de anos, de
um facto semelhante ocorrido com um colega nosso que, infelizmente, já nos
deixou. As instalações sanitárias eram partilhadas por ele e por um enfermeiro
chinês. Quando o enfermeiro as utilizava algum tempo depois do médico,
encontrava formigas no urinol. O nosso colega (e meu amigo do peito) lá fez as
análises que permitiram o diagnóstico da sua diabetes…
A história de Wilhelm Röntgen
que, depois de ter verificado que uma tela impregnada de um sal de bário se
iluminava a cada descarga do tubo de Crookes, compreendeu que estava em face
duma radiação diferente, invisível mas capaz de atravessar alguns materiais,
levou-o a obter a primeira radiografia da História da Medicina, ao expor uma das
mãos de sua esposa a essa radiação, colocando, do outro lado uma chapa
fotográfica.
O livro de Joaquim Figueiredo
Lima lê-se com agrado. Ensina e diverte. O autor recorda Louis Pasteur, que
escreveu: a sorte favorece as mentes bem preparadas.
A procura do rigor científico
por parte de Figueiredo Lima e a sua preocupação em pôr à disposição dos
leitores dados com que possam desenvolver os próprios conhecimentos faz com
que, num livro com poucas mais de 300 páginas haja 65 dedicadas à Bibliografia.
Muito obrigado pelas imerecidas considerações que só a Amizade entre nós levam a que sejam produzidas, estimado e Amigo António Trabulo!
ResponderEliminarAbraço e Obrigado!
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