Histórias da Medicina Portuguesa

No termo de uma vida de trabalho, todos temos histórias a contar. Vamos também aprendendo a ler a História de um modo pessoal. Este blogue pretende viver um pouco da minha experiência e muito dos nomes grandes que todos conhecemos. Nos pequenos textos que apresento, a investigação é superficial e as generalizações poderão ser todas discutidas. A ambição é limitada. Pretendo apenas entreter colegas despreocupados e (quem sabe?) despertar o interesse pela pesquisa mais aprofundada das questões que afloro.
Espero não estar a dar início a um projecto unipessoal. As portas de Histórias da Medicina estão abertas a todos os colegas que queiram colaborar com críticas, comentários ou artigos, venham eles da vivência de cada um ou das reflexões sobre as leituras que fizeram.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018



O FÍSICO PRODIGIOSO


Li, recentemente, “O físico prodigioso” de Jorge de Sena.
Diz o autor que se trata de um desenvolvimento ampliado e duma fusão de duas histórias do “Orto do Esposo”, um livro moralístico-religioso da literatura portuguesa da primeira metade do século XV. As narrativas são a do homem que tinha poderes mágicos de curar e fazer ressuscitar os mortos com o seu sangue e a do homem que não podia ser enforcado porque o diabo o protegia, levantando-o no ar.
O resultado é saboroso. Não resisto a publicar aqui um pequeno excerto.

Avançaram para ele dois físicos com longas vestes pretas adejando em reflexos como de corvo. E logo lhe começaram um exame. “Usava ele umbigo de menino, cozido ou frito? E a corda de enforcado? Quanto tempo a punha de molho? Pela lua nova ou no minguante? E o olho mirrado do gato preto? Torrava-o? E a mão de toupeira? Em molho de giesta ou de serpão?




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