O FÍSICO PRODIGIOSO
Li,
recentemente, “O físico prodigioso” de Jorge de Sena.
Diz
o autor que se trata de um desenvolvimento ampliado e duma fusão de duas
histórias do “Orto do Esposo”, um livro moralístico-religioso da literatura
portuguesa da primeira metade do século XV. As narrativas são a do homem que
tinha poderes mágicos de curar e fazer ressuscitar os mortos com o seu sangue e
a do homem que não podia ser enforcado porque o diabo o protegia, levantando-o
no ar.
O
resultado é saboroso. Não resisto a publicar aqui um pequeno excerto.
Avançaram para ele dois físicos com
longas vestes pretas adejando em reflexos como de corvo. E logo lhe começaram
um exame. “Usava ele umbigo de menino, cozido ou frito? E a corda de enforcado?
Quanto tempo a punha de molho? Pela lua nova ou no minguante? E o olho mirrado
do gato preto? Torrava-o? E a mão de toupeira? Em molho de giesta ou de serpão?
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