Faz hoje cem anos que
morreu, em Espinho, Amadeo de Sousa Cardoso. Foi ceifado pela Gripe Pneumónica,
a pandemia mais mortífera de que há registo na História da Humanidade.
Em Portugal, a gripe terá
provocado entre 60.000 e 120.000 mortos. Sucumbiam 6 a 8 % do total das pessoas
infetadas. A “Pneumónica” atingia preferencialmente o grupo etário situado
entre os 20 e os 40 anos. Era o caso de Amadeo, que festejaria o seu 31º
aniversário dali a um mês.
Durante a sua prolongada estadia em
Paris, Amadeo de Sousa Cardoso privou com alguns dos nomes mais sonantes da
pintura e da escultura da época. Outro Amadeu (Modigliani) tornou-se seu amigo
chegado. A I Grande Guerra fê-lo voltar à Pátria.
Quem olha hoje as obras de Amadeo, fica impressionado
pela vitalidade que transmitiu ao pincel. Lê-se ali vontade de experimentar, ambição,
bom gosto, desejo de afirmação e uma grande harmonia na mistura das cores. Aqui
e além, o artista dá a impressão de tatear, como se percorresse, de olhos vendados,
uma vereda pouco conhecida. Pintou centenas de quadros. Em vários deles, parece
brilhar a centelha do génio.
Procissão do Corpo de Deus
A pensar em quadros seus, escreveu
Pessoa, pela voz de Álvaro de Campos: só
tem direito ou o dever de exprimir o que sente, em arte, o indivíduo que sente
por vários. O que é preciso é o artista que sinta por um certo número de
Outros, uns do passado, outros do presente, outros do futuro.
O pintor não se fidelizou a qualquer
corrente estética. Afirmou, numa entrevista a um jornal português:
Eu não
sigo escola alguma. Nós, os novos, só procuramos a originalidade. Sou
impressionista, cubista, futurista, abstracionista? De tudo um pouco.
Alcançou
a perfeição em várias dessas correntes, mas não se deteve em nenhuma. Chegou a escrever:
Eu, nem a mim mesmo me sigo na visão artística. Tudo o que tenho feito é diferente do precedente e sempre mais perfeito.
Eu, nem a mim mesmo me sigo na visão artística. Tudo o que tenho feito é diferente do precedente e sempre mais perfeito.
Galgos
Ia
outubro de 1918 adiantado, quando Amadeo de Sousa Cardoso escreveu ao irmão António
a sua última carta conhecida. Deixo aqui excertos dela.
Meu
caro António:
Algumas
notícias nossas e são as seguintes: a Gracita continua no mesmo estado. Não tem
piorado, mas também as melhoras não são para dar descanso. Na noite passada, o
termómetro acusou altíssima temperatura. Hoje, até à hora que escrevo, tem
baixado: 39, 39 e meio.
Eu
ando constipadíssimo. De vez em quando, sinto bastante opressão no peito.
Tenho-me atirado ao vinho do Porto, como prevenção.
Não
sei quê que me diz que vae haver grande mudança na vida da nossa família. Será
pessimismo meu, oxalá!
Abraça-te
teu muito dedicado irmão,
Amadeo
O pintor de Manhufe morreu cedo e o seu
valor foi reconhecido tarde.
Ninguém
pode saber quanto teria ainda para dar à arte portuguesa e mundial. Embora seja
pouco útil conjeturar, alguns dos que o apreciam interrogam-se: teria Amadeo acabado
por se encostar a algum dos movimentos estéticos da época, ou viria a criar uma
escola própria?
Fontes: Alfaro, Catarina. Amadeo de Souza Cardoso
Wikipedia.
Excelente trabalho sobre um dos mais relevantes pintores portugueses...vítima da tragédia pneumónica.
ResponderEliminarObrigado Amigo Dr. António Trabulo!