GRIPE
PNEUMÓNICA
II
A Pneumónica foi provocada por uma estirpe do vírus Influenza A, do subtipo H1N1.
O vírus da gripe é um ortomixovírus com dois tipos essenciais de glicoproteínas de superfície: a hemaglutinina e a neuraminidase. A variação da antigenicidade destas glicoproteínas permite à gripe apresentar-se de formas novas quase todos os anos.
De tempos a tempos, ocorrem variações maiores, as chamadas “antigenic shift”.
As nossas defesas imunológicas assentam na imunidade humoral, baseada na produção de anticorpos contra estes dois antigénios, ajudada pela imunidade celular, a cargo dos linfócitos T, das células exterminadoras naturais e dos macrófagos.
Em 2005, foi anunciado o
sequenciamento genético do vírus da gripe de 1918, recuperado de cadáveres
congelados em zonas de permafrost, ou pergelissolo. É um tipo de solo
encontrado na região do Ártico. É constituído por terra, gelo e rochas
permanentemente congeladas.
Estudos em ratinhos
sugeriram que as mortes ocorriam quando os sistemas imunológicos reagiam
exageradamente ao vírus, com libertação excessiva de citoquinas. Essas
“tempestades” de citoquinas teriam precipitado o envolvimento pulmonar e a
morte de adultos jovens, durante a pneumónica. Dito de outro modo, parece que morreu quem se defendeu demais.
Os sistemas imunológicos
mais débeis de crianças e velhos não seriam capazes de reações tão intensas,
originando menores taxas de mortalidade. As crianças e os idosos costumam ser
os mais vulneráveis às epidemias. Não aconteceu assim com a pneumónica, que
castigou, essencialmente os setores jovens da população, predominando entre os
20 e os 40 anos de vida. Complicou-se, frequentemente, com pneumonias bacterianas
secundárias.
Apesar de existirem
diferenças notáveis nas condições higiénicas e alimentares, a gripe foi
transversal a um grande número de países e a todas as classes sociais.
Há quem defenda que uma
parte dos óbitos por gripe poderia estar associada à intoxicação com aspirina,
a qual, chegava a ser recomendada em doses de 30 gramas por dia e poderia estar
associada às hemorragias. No entanto, a mortalidade foi também elevada em
regiões do mundo em que a população não tinha acesso ao ácido acetilsalicílico.
Muitos consideram que a
estirpe viral responsável pela gripe pneumónica foi invulgarmente agressiva. Benigna,
não foi, mas terá sido ajudada, pelo menos na Europa, pela subnutrição e pela
falta de condições higiénicas causadas pela guerra e, ainda, pela aglomeração
de pessoas nos acampamentos militares e nas cidades. A sobrelotação dos
hospitais terá facilitado a eclosão de superinfeções bacterianas, responsáveis
por muitas mortes.
Os mais velhos terão sido
relativamente poupados por terem tido contacto anterior com vírus aparentados a
este, que terão circulado décadas atrás (pandemia de 1889-90).
As vítimas prediletas da gripe
pneumónica foram as grávidas, com mortalidade excecionalmente
elevada. Há quem indique uma taxa de 30% e quem aponte para números
superiores.
A história da gripe está longe de acabar.
Vejamos brevemente como começou. Falo, naturalmente, das epidemias que foram registadas por escrito.
RELATOS ANTIGOS DE GRIPE A
TUCIDIDE (ATENAS) 431 A.C.
HIPÓCRATES (NORTE DA GRÉCIA) 412 A.C.
POSSÍVEIS SURTOS NO SÉCULO V
EPIDEMIAS NA ITÁLIA, NO RENASCIMENTO
PANDEMIA DE 1530
PANDEMIA DE 1889 (ORIGEM NA SIBÉRIA)
RELATOS ANTIGOS DE GRIPE A
TUCIDIDE (ATENAS) 431 A.C.
HIPÓCRATES (NORTE DA GRÉCIA) 412 A.C.
POSSÍVEIS SURTOS NO SÉCULO V
EPIDEMIAS NA ITÁLIA, NO RENASCIMENTO
PANDEMIA DE 1530
PANDEMIA DE 1889 (ORIGEM NA SIBÉRIA)
Tucidide (460-395 a. C.) relatou uma
epidemia ocorrida em Atenas no ano de 431 a.C. Descreveu os sintomas, que
parecem sobreponíveis aos da gripe e, ainda, a desregulação que a doença
provocou na vida da cidade, com o oportunismo, o mercado negro dos bens essenciais
e a falta de respeito pelos mortos.
Hipócrates descreveu um surto de
infeção catarral acontecida no norte da Grécia no ano 412 a.C. Tratou-se,
provavelmente, de gripe, e foi relatada no Livro IV das Epidemias.
Há descrições de possíveis surtos
gripais no século V, mas a verdadeira história da gripe epidémica tem início
entre os séculos XIV e XVI, com os relatos das epidemias italianas do
Renascimento. Ocorreu uma pandemia em 1530. A partir dessa data, a gripe
diminuiu de frequência na Europa, até que no inverno de 1889, nasceu na Sibéria
uma nova pandemia.
PANDEMIAS DE GRIPE A APÓS A PNEUMÓNICA
PANDEMIAS DE GRIPE A APÓS A PNEUMÓNICA
GRIPE ASIÁTICA 1957 (H2N2)
GRIPE DE HONG KONG 1968 (H5N1)
GRIPE "SUÍNA" 2009 (H1N1)
Segundo Francisco George, as
pandemias de gripe são sempre diferentes umas das outras. Sucedem-se, a cada
pandemia, epidemias anuais provocadas por estirpes que lhe são aparentadas,
como se duma dinastia se tratasse.
As aves, especialmente as aquáticas
migratórias, como os patos selvagens, constituem o reservatório natural do
vírus da gripe. As pandemias regressam, com intervalos de tempo variáveis.
As
autoridades sanitárias estão, todos os anos, à espera duma nova epidemia. Hoje
dispomos de antibióticos para combater as infeções bacterianas secundárias e
uma melhor organização dos cuidados sanitários. Contudo, os transportes são
também mais rápidos e os vírus chegam cá mais depressa.
Em
1918, não existiam terapêuticas antivirais específicas. Na atualidade, dispomos
de vários medicamentos.
MEDICAMENTOS ANTIVIRAIS
ADAMANTANAS (ANTIPARKISÓNICOS)
AMANTADINA E RIMANTADINA
NUNCA FORAM EFICAZES CONTRA A GRIPE B
As ESTIRPES A SÃO CADA VEZ MAIS RESISTENTES
ADAMANTANAS (ANTIPARKISÓNICOS)
AMANTADINA E RIMANTADINA
NUNCA FORAM EFICAZES CONTRA A GRIPE B
As ESTIRPES A SÃO CADA VEZ MAIS RESISTENTES
Tendem a ser abandonadas, no tratamento da gripe.
INIBIDORES DA NEURAMINIDASE
ZANAMIVIR
OSELTAMAVIR (TAMIFLU)
PERAMIVIR (I.V.)
Podem ser usados tanto para prevenir, como para tratar a gripe. O peramivir, de
administração intravenosa, é sugerido para os casos em que o oseltamivir falha.
Em
casos de mutação viral importante, são os únicos meios para tentar controlar a
proliferação da doença, até se produzir uma vacina específica contra a estirpe
nova.
A
terapêutica antiviral reduz a mortalidade dos doentes com pneumonia viral,
mesmo se iniciada dois dias após o início da doença. No entanto, nas epidemias
de gripe A do Missisipi, em 2001 e de Hong Kong, em 2009, foram encontrados
vírus que continham o gene de mutação H275Y da neuraminidase que confere
resistência ao oseltamivir.
Tem sido recomendada a profilaxia precoce.
Tem sido recomendada a profilaxia precoce.
Contudo,
há artigos que indicam que o uso profilático deste produto, em pessoas que
contactaram com doentes, pode aumentar o risco de resistência. Sugerem que
a profilaxia se deve reservar a pacientes com patologia grave associada.
Tem
sido tentada a associação de vários antivirais. Pelo menos num ensaio clínico,
o recurso à medicação com uma combinação de oseltamivir com peramivir não deu
resultados superiores ao uso isolado do oseltamivir.
O
vírus da gripe pneumónica correu o mundo durante dezoito meses, de março de
1918 a agosto de 1919.
(Continua)
(Continua)
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