AS CANTÁRIDAS
A cantharis vesicatoria, ou lytta vesicatoria, também
conhecida por Mosca de Espanha, é um coleóptero da família das cantaradiae.
Trata-se uma espécie de mosca de cor verde-azulada metálica, bonita mas
malcheirosa, comum no sul da Europa, onde se encontra em sabugueiros, álamos e
freixos. Existe em Portugal.
Em tempos, os insetos eram mortos com vapor de vinagre forte
e secos ao sol. Recolhiam-se os que se encontram em melhores condições e
reduziam-se a pó.
O pó é corrosivo e vesicatório. O seu
elemento ativo é o terpenoide cantaridina (C10H12O4),
substância irritante que provoca localmente rubefação e vesicação. Para obter
um bom emplastro, são necessárias três partes de pó, uma de azeite e duas de
cera amarela, resina e aguarrás de pinheiro.
As cantáridas são referidas no Papiro de Ebers, um texto egípcio de 1550 a.C. e no Corpus Hippocraticum.
As cantáridas são referidas no Papiro de Ebers, um texto egípcio de 1550 a.C. e no Corpus Hippocraticum.
A cantaridina foi isolada, em 1810, pelo
químico francês Pierre Robiquet. Foi considerada um dos venenos mais violentos
até então conhecidos.
Ao longo dos séculos, as cantáridas foram responsabilizadas por muitas mortes, tanto em consequência de homicídios como de suicídios. Nos meados do século XVII ganharam fama as “pastilhas Richelieu”, que terão sido usadas para colher vidas sem deixar rasto.
Ao longo dos séculos, as cantáridas foram responsabilizadas por muitas mortes, tanto em consequência de homicídios como de suicídios. Nos meados do século XVII ganharam fama as “pastilhas Richelieu”, que terão sido usadas para colher vidas sem deixar rasto.
Ingeridas, as cantáridas são suscetíveis de causar erosão da mucosa digestiva, podendo desencadear hemorragias gastrointestinais
severas. Têm sido descritas necrose tubular e glomerular renal, seguidas de
insuficiência renal. Pode levar à morte.
Utilizam-se em unguentos e emplastros vesicatórios. “Nunca
se hão de administrar interiormente, pelos muitos dados que costumam causar” (Coelho,
1735, 168).
A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira dá informações interessantes sobre a utilização médica das cantáridas. Hipócrates aconselharia o uso do seu pó na hidropisia, na icterícia e em partos difíceis. Terá sido também utilizada para provocar abortos. Oribásio de Pérgamo, no sec. VI a.C., recomendou o seu emprego como epispástico ou vesicatório. Ribeiro Sanches defende a sua utilização no tratamento de certas lesões cutâneas da sífilis. Curvo Semedo refere casos de disúria como complicação da sua ingestão.
As cantáridas foram utilizadas durante séculos na medicina tradicional europeia, como vesicatórios, diuréticos e afrodisíacos. Ainda hoje se recorre a elas, como afrodisíacos e para a remoção de verrugas. São utilizadas em homeopatia e publicitadas, para venda livre, na Internet.
A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira dá informações interessantes sobre a utilização médica das cantáridas. Hipócrates aconselharia o uso do seu pó na hidropisia, na icterícia e em partos difíceis. Terá sido também utilizada para provocar abortos. Oribásio de Pérgamo, no sec. VI a.C., recomendou o seu emprego como epispástico ou vesicatório. Ribeiro Sanches defende a sua utilização no tratamento de certas lesões cutâneas da sífilis. Curvo Semedo refere casos de disúria como complicação da sua ingestão.
As cantáridas foram utilizadas durante séculos na medicina tradicional europeia, como vesicatórios, diuréticos e afrodisíacos. Ainda hoje se recorre a elas, como afrodisíacos e para a remoção de verrugas. São utilizadas em homeopatia e publicitadas, para venda livre, na Internet.
Curiosamente, tiveram aplicação culinária no norte de
África. Em Marrocos, o tempero conhecido como ras el hanout (“o máximo da minha cozinha”) chegava a contar com
mais de 100 ingredientes, incluindo cantáridas. A sua comercialização foi
proibido por volta de 1990. O dawamesk,
um molho norte-africano complexo, contém ocasionalmente cantáridas.
O uso das cantáridas está associado a algumas histórias
interessantes. Em junho de
1772, o marquês de Sade deslocou-se a Marselha para recrutar prostitutas. No
regresso, organizou uma orgia em que terá oferecido às mulheres bombons de anis
alegadamente recheados com pós de cantáridas, com a intenção de lhes aumentar a
libido. A festa correu mal e várias das convidadas adoeceram, com vómitos
copiosos. Uma acabou por morrer.
Em
consequência de mais este escândalo, o marquês foi preso e chegou a ser
condenado à morte. Evadiu-se, em circunstâncias rocambolescas. Curiosamente, o
inquérito levado a cabo pelas autoridades judiciais, com a colaboração de
peritos químicos (com os conhecimentos e as tecnologias da época) não detetou,
nem nas pastilhas de anis restantes, nem na análise do vómito da vítima,
vestígios de substâncias tóxicas.
Consta
que Simão Bolivar, o padrinho de muitas nações que emergiram do império
colonial espanhol, morreu de envenenamento acidental por cantáridas,
aplicadas por um suposto médico francês na forma de emplastro na nuca. A
história é retomada por Gabriel Garcia Marquez, na sua novela “O general no seu
labirinto”.
O rei
“Católico” Fernando II de Aragão terá tido também a vida abreviada pelo consumo
de cantáridas. Usava-as, juntamente com testículos de touro e outros produtos
de reputação afrodisíaca. Pretendia conseguir um filho da sua segunda esposa, a jovem Germana de Foix.
Curiosamente,
algumas constatações recentes sugerem que o efeito das cantáridas resulta em
dor e não em prazer.
Fontes:
Coelho, Manoel Rodrigues. 1735. Pharmacopeia
Tubalense. Lisboa: Of. António de Sousa da Silva.
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Editorial Enciclopedia, Lisboa, Rio de Janeiro.
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Editorial Enciclopedia, Lisboa, Rio de Janeiro.
Remy (Pierre
Jean). 2001. Le marquis de Sade a-t-il empoisonné des files publiques em 1972? Trésors
et secrets du Quay d`Orsay. Paris. J.-C. Lattès.
Sellen, Adam. 2017. Cantáridas mexicanas: una fuente para la historia de la medicina natural. Relaciones: Estudios de História y Sociedade, vol.38, nº1.
Sellen, Adam. 2017. Cantáridas mexicanas: una fuente para la historia de la medicina natural. Relaciones: Estudios de História y Sociedade, vol.38, nº1.
Excelente entrada!
ResponderEliminarQuando estive em Moçambique, entre 1974-1975, alguns dos meus subordinados queriam experimentar ingerir tintura de cantáridas com fins afrodisíacos.
Como estava a par das consequências (era Furriel Miliciano Enfermeiro), demovi-os disso, porque no meio do nada não tinha meios para obstar a tais consequências!
Tenho um pequeno formulário que pertenceu ao meu avô paterno, que era farmacêutico, onde constam preparações de cantáridas.
Um abraço e continue a escrever. Sou apaixonado por História da Medicina e por «estórias» da Medicina, como soe agora dizer-se...
Nossa que relato excelente meu amigo, sou Químico e apaixonado por Alquimia e fórmulas antigas, estudo também as plantas medicinais. Um abraço.
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