Histórias da Medicina Portuguesa

No termo de uma vida de trabalho, todos temos histórias a contar. Vamos também aprendendo a ler a História de um modo pessoal. Este blogue pretende viver um pouco da minha experiência e muito dos nomes grandes que todos conhecemos. Nos pequenos textos que apresento, a investigação é superficial e as generalizações poderão ser todas discutidas. A ambição é limitada. Pretendo apenas entreter colegas despreocupados e (quem sabe?) despertar o interesse pela pesquisa mais aprofundada das questões que afloro.
Espero não estar a dar início a um projecto unipessoal. As portas de Histórias da Medicina estão abertas a todos os colegas que queiram colaborar com críticas, comentários ou artigos, venham eles da vivência de cada um ou das reflexões sobre as leituras que fizeram.

terça-feira, 8 de novembro de 2011


                           AMATO LUSITANO

              ROMA E LISBOA



Na cura XIII da Terceira Centúria, João Rodrigues estabelece comparações entre Roma e Lisboa e refere-se à capital do reino português de forma elogiosa. O judeu de Castelo Branco deixa transparecer as saudades da Pátria.


Lisboa tem cerca de quarenta graus de elevação polar e Roma quarenta e um. Lisboa é a cidade mais ocidental de toda a Hispânia e a mais ilustre de toda essa zona ocidental, na opinião de todos. Fica assente num terreno plano, e as suas praças são banhadas pelo Mar Oceano em que desagua o Tejo aurífero. Não é dominada por ventos de montes nevados nem corrompida por florestas temerosas ou pântanos infetos, nem por águas estagnadas, lagoas, fossos ou cavernas donde é costume levantarem-se cheiros pestilentos que quase sempre infetam as cidades, como acontece com várias urbes da Itália e da Grécia. Pelo contrário, tem nos arredores campos férteis, jardins agradabilíssimos, fontes de água límpida, ribeiros cristalinos, vinhas aprazíveis, pomares abundantíssimos. De tudo isto resultam ares salubérrimos, mantendo a melhor temperatura nas quatro estações do ano, uma vez que no pino do verão o calor não é insuportável a ponto de sufocar as pessoas, nem o frio do inverno é tão rigoroso que os obrigue a refugiarem-se junto ao lume. É raro ver-se em Lisboa a geada ou a neve, sendo por isso que em pleno inverno até usam vestuário muito simples, sem precisarem de se defender com peles. A cidade é bafejada, em grande parte, por uma brisa muito suave, provinda do oceano, propiciadora de tudo, como querem Hesíodo e Homero.
Roma também possui tudo o que foi dado a Lisboa mas fica a Oriente e está mais voltada ao Sul que ao Norte. Por isso a sua temperatura é superior em calidez e humidade e portanto, como disse Galeno, sujeita a destilações. É atravessada pelo rio Tibre, chamado outrora Abbula que desagua no mar, não muito longe, de modo a partilhar com razão a mesma temperatura que tem Lisboa. Daqui vem que os romanos são fisicamente semelhantes aos lisboetas e outros portugueses, a ponto de até serem iguais na duração de vida, como esclareceremos um pouco mais adiante.


Que bom seria viver em Lisboa sem engarrafamentos de trânsito e sem poluição! Pena seria a falta de esgotos e de água e a lama nos caminhos…

Referências:
Amato Lusitano, Centúrias de Curas Medicinais. Centro Editor Livreiro da Ordem dos Médicos, Lisboa, 2010.
Gravuras
Lisboa antiga - Internet

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