MEDICINA EM MACAU
VI
MÉDICOS JESUÍTAS NA CHINA
Relação do sucesso que teve na
China e Corte de Pequim
a chegada dos médicos europeus
a chegada dos médicos europeus
O
Imperador da China pediu ao Padre Grimaldi que lhe enviasse para a Corte um
médico europeu.
A
ideia não agradava aos Padres de Macau. Teriam pouca fé no sucesso da Medicina
Europeia na China. Por outro lado, faltariam os médicos na cidade. A ideia
tardou a concretizar-se.
Anos
depois, já em 1691, o Jesuíta Isidoro Lucci, italiano que tinha em tempos estudado
Medicina e pretendia missionar no Japão, desembarcou em Macau. Grimaldi,
sabendo que a Corte seria informada de que chegara outro médico ao pequeno domínio português, fê-lo seguir
viagem. Lucci partiu para Pequim em maio de 1692, acompanhado pelo cirurgião
João Baptista Lima, que “ainda que china de nação, se criara entre europeus em
Goa, Batávia e Sião” e servia o Senado.
A
sabedoria milenar chinesa aconselhava a desconfiança. O médico Lucci foi
sujeito a testes e a sorte não o beneficiou. Os doentes com que foi confrontado
não o deixaram brilhar: uma mulher histérica, um caso grave de tifo
exantemático, uma varíola hemorrágica, um caso de reumatismo arrastado e uma
tuberculose em fase terminal.
No
dizer doutro jesuíta, que escreveu de Pequim “os casos não lhe sucederam bem e a medicina europeia não saiu deles com
grande honra”.
O
cirurgião Lima teve melhor sorte. Tratou “postemas, alporcas, chagas mal
incarnadas e mal dos olhos”. Na opinião dos Padres, mostrou-se competente: “com
a longa experiência, tinha boas receitas e melhores mãos, além da natural
audácia…”
Exibiu
a ousadia atrevendo-se a drenar um abcesso parotidiano dum jovem príncipe, 9º
filho do Imperador Kang Hsi. Fê-lo, segundo consta dos relatos, com um ferro ao
rubro. A meio da noite, foi mandado chamar. O príncipe desfalecera. Depois de
observar o doente, declarou que “o menino nada tinha, salvo o medo que os seus
lhe tinham causado".
João
Baptista Lima arriscava a vida. Havia quem dissesse: “se o menino morrer, não
morre só”. A criança curou-se e o cirurgião ganhou fama e proveito.
Um
dia, o próprio Imperador adoeceu com febre alta e, apesar das fracas provas
dadas, Lucci foi chamado ao Palácio, acompanhado do velho Padre Francisco
Simões, Superior da Missão no interior. Os Jesuítas não quiseram arriscar o
prestígio da Companhia. Observaram o ilustre doente, mas não fizeram prescrições,
alegando não haver em Pequim os remédios europeus adequados.
Fonte: Padre Manuel Teixeira, A Medicina em Macau. Governo de Macau, 1998.
Fonte: Padre Manuel Teixeira, A Medicina em Macau. Governo de Macau, 1998.
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