MNEMÓNICAS
Vão longe os tempos em que
estudava Anatomia na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. O livro
de texto era o gordo Textut, embora a maior parte dos estudantes aprendesse
quase tudo pelo “Precis”, que não tinha ilustrações e era bem mais elegante.
Recorríamos com frequência
a mnemónicas. Julgo que quase todos criávamos as nossas próprias, mas havia as
que se tornavam populares e circulavam através de gerações.
A artéria maxilar
interna foi agraciada com duas das mais famosas auxiliares de memória
conhecidas. Uma permitia fixar os ramos colaterais ascendentes da artéria
maxilar interna: Tu, Minha menina, Pequena menina, Tens
profunda mágoa, Tens profundo amor. (Timpânica, Meníngea
média, Pequena meníngea, Temporal profunda média, Temporal profunda anterior.)
Apenas as mais interessantes
se generalizavam, mas criavam-se muitas pessoais. Era assim que eu recordava os
nomes dos pares cranianos: Olha Oh pá Mamas Para Três Minha Filha
Ai Glória Não Me Esperes Hoje (Olfativo, ótico, motor ocular comum,
Patético, Trigémeo, Motor ocular externo, Facial, Auditivo, Glossofaríngeo, Pneumogástrico,
Espinhal e Hipoglosso).
Havia outras, para
variados órgãos e gostos. Salazar Deu o Cu e Ficou Virgem
permitia lembrar as túnicas que envolviam o testículo. Se bem me lembro, eram
Scrotum, Dartos, Celulosa, Fibrosa e Vaginal. Fico com a sensação de que me
falta uma…
Desconheço o modo de
ensinar e aprender Anatomia nos dias de hoje. Espero que o processo esteja mais
racionalizado e que não seja exigido aos jovens um esforço de memorização tão
intenso e prolongado que se pode revelar, mais tarde, parcialmente inadequado ou
pouco útil. No meu tempo, os três primeiros anos eram usados para adquirir
conhecimentos básicos e uma linguagem própria que permitisse o acesso às bem
mais interessantes cadeiras clínicas. Talvez fosse por isso que eu e muitos
como eu só passássemos a gostar verdadeiramente do Curso a partir do quarto ano.
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