MEDICINA
GREGA
PRÉ-HIPOCRÁTICA
Os passos humanos seguem quase sempre trilhos
antigos. As ciências e as artes não começaram do nada. Antes de Hipócrates, já
a Medicina grega florescia. Eram conhecidas as escolas de Crotona, Epidauro,
Cirene, Cnido e Cós.
Foram médicos Alcméon e
Filolau de Crotona, Empédocles de Agrigento e até Diógenes de Apolónia.
Xenófanes, Zenão, Parménides e Leucipo também influenciaram o pensamento
hipocrático.
ALCMEÓN
Crotona era uma colónia
grega no sul da Península Itálica e está associada a Pitágoras, que ali
estabeleceu a sua escola filosófica. Foi também um alfobre de médicos ilustres, tendo lá estudado Alcmeón e Filolau.
Alcmeón terá nascido entre 535
e 510 a.C. Chamaram-lhe médico-filósofo, o que não admira pois, outrora, não
era possível isolar a Medicina dos outros ramos do pensamento. Alcmeón estabeleceu
paralelos entre a vida humana e a sociedade. Acreditava que a Justiça era o
estado normal do mundo e que a Saúde resultava do equilíbrio adequado entre pares
de qualidades opostas: húmido-seco, quente-frio, doce-salgado e ácido-amargo. A doença seria causada pelo predomínio de uma destas qualidades. Era
a teoria dos humores, na sua formulação original.
Alcmeón atribuiu também às enfermidades
causas externas: o excesso de alimentação ou a falta dela, a qualidade das
águas, as características geográficas e a fadiga.
Terá praticado a dissecação
de cadáveres humanos. Diz-se que descreveu as trompas de Eustáquio. Distinguiu
as veias, que continham sangue escuro, das artérias, que transportavam sangue
vermelho vivo. Esta noção, que só poderia resultar da observação de organismos vivos, perdeu-se, em seguida. Hipócrates confundia artérias
e veias.
Alcmeón identificou os
nervos ópticos. Considerou-os ocos e chamou-lhes canais. Esses “canais” conduziam
as sensações ao cérebro, órgão que centrava a atividade mental, a psyqué. As
doenças mentais seriam resultantes do mau funcionamento do cérebro.
Alcmeón distinguiu
a sensação da inteligência e intuiu a elaboração dos sinais recebidos. Esforçou-se por
entender os mecanismos do sono e do despertar e formulou para eles uma teoria
vascular que assentava na variação da quantidade de sangue presente. O sono
seria desencadeado pelo recuo do sangue para as veias e o despertar resultaria da
sua dispersão.
O grande médico de Crotona interessou-se
pela Embriologia, procurando a explicação da vida. Afirmou que a cabeça do feto
era a primeira parte do corpo a ser desenvolvida. Considerou que o sexo da
criança era determinado pelo predomínio da semente materna ou paterna.
Depois de Alcméon, passou a
considerar-se que a Fisiologia tinha um papel mais importante do que a Cosmologia na génese das enfermidades. Nem a prevenção, nem a cura das doenças teriam de apelar ao sobrenatural.
FILOLAU
Asseveram
os teólogos e os vates antigos que a alma, por determinada expiação, está unida
ao corpo e nele enterrada como em um túmulo.
Comparava o funcionamento do
corpo humano ao do Universo. Como o mundo tinha um fogo central, também o corpo
humano dispunha do seu. O calor deveria equilibrar-se com o frio. Para isso se
inspirava o ar exterior, o qual era depois expulso, para que o excesso de frio
não prejudicasse o organismo. A influência recíproca destes dois elementos
contrários determinava o ritmo da respiração. A doença resultava da alteração
deste intercâmbio.
Filolau ganhou o seu lugar na cultura universal por ter sido o divulgador das ideias de Pitágoras.
EMPÉDOCLES
Empédocles nasceu em
Agrigento, na Sicília. Terá vivido de 490 a 430 a.C.
Influenciou a Cultura e a
Medicina ocidentais como poucos outros pensadores. Foi o criador da teoria cosmogónica
dos quatro elementos, que iria ter aceitação generalizada durante cerca de dois
milénios. O fogo, o ar, a água e a terra, combinando-se uns com os outros em
proporções diversas, estariam na base de toda as estruturas do mundo.
Empédocles aceitou as ideias
de Alcméon sobre os pares de qualidade opostas. A saúde resultaria da sua
mistura harmoniosa e a doença do excesso relativo duma delas. Reformulou,
contudo, a teoria dos humores, que seriam quatro: a bílis amarela, o sangue, o
fleugma e a bílis negra. Esta conceção impregnou as ideias médicas prevalecentes na Europa até ao
Renascimento e mesmo depois dele.
Empédocles
interessou-se pela reprodução humana. Referiu o papel nutritivo da placenta e
determinou a duração da gravidez.
Em alguns pontos, as suas
ideias constituíram um retrocesso em relação às de Alcmeón de Crotona. Para ele,
o conhecimento localizava-se no coração e era veiculado pelo sangue.
Foi o último filósofo grego a
escrever em verso.Terá sido melhor poeta do que médico. Referiu a lua do olho claro, o mar, suor da terra e a noite solitária e cega…
BIBLIOGRAFIA
Alzina, A. Hipócrates:
filosofia e mistérios em Medicina grega. Nova Acrópole (Internet).
Namora, F. Deuses e demónios
da Medicina. Livraria Bertrand, Amadora, 1979.
Marques Filho, J. Alcméon de
Cretona, o avô da Medicina. Revista Ser Médico, CREMESP, 29- abril/junho 2007
(Internet).
Sem comentários:
Enviar um comentário