JOSEP MENGELE
Os
amigos de Mengele avisam-no do perigo. O novo governo democrático argentino
poderia responder afirmativamente ao pedido germânico de extradição.
Josef Mengele
aterrorizou-se. Despediu-se dos seus sócios na empresa farmacêutica, pediu à
família discrição e paciência e voltou a Assunção.
Instalou-se,
a seguir, na quinta do nazi Alban Krug, em Nueva Bavaria. Ficava perto da
fronteira argentina.
Retomou a atividade de caixeiro-viajante.
Percorria as grandes explorações rurais do Paraguai com o seu catálogo de
máquinas agrícolas.
Entretanto,
os seus amigos procuravam conseguir-lhe um passaporte paraguaio. A tarefa não
era fácil: a lei exigia a permanência prévia de cinco anos no país. Por outro
lado, Marta mostrava dificuldade em adaptar-se à vida rural.
O cerco
apertou-se. O governo alemão enviou pedidos de extradição não apenas à
Argentina, mas também ao Paraguai, dados os rumores que circulavam quanto à
deslocação de Mengele para aquele país. Os processos arrastaram-se. Nenhum dos estados
envolvidos no processo mostrava qualquer urgência em responder às autoridades
alemãs.
Rudel,
o ás da Lufwtaffe convertido em fornecedor de armas ao regime de Stroessner, interveio
a favor do seu amigo junto do Ministério do Interior. Helmut Gregor era um
médico brilhante e estava a ser perseguido devido às suas convicções políticas.
Tratava-se de um homem útil para o Paraguai.
A sua
mediação teve êxito e, em novembro de 1959, o Supremo Tribunal paraguaio
concedeu a Gregor a cidadania e a autorização de residência.
Os
seus amigos Jung organizaram uma pequena festa para celebrar o evento. No
entanto, Josef chegou deprimido a casa deles. Acabara de receber a notícia
da morte de seu pai.
Falou
longamente do pai e do relacionamento muitas vezes difícil entre ambos. Quase a
chorar, recitou uma frase em latim que Mengele sénior gostava de repetir: procul recedant somnia, et noctium
phantasmata (que fiquem longe de nós os sonhos e os fantasmas da noite).
Entretanto,
em Buenos Aires, Adolf Eichmann, que fazia uso do nome de Ricardo Klement, ia
dando demasiado nas vistas. Apesar de ter um emprego modesto como fiel de
armazém na empresa Mercedes, fora rastreado pela Mossad, a agência israelita
dos Serviços Secretos. Mengele era também objeto de investigação. A Mossad foi
informada de que Josef Mengele usava o nome de Helmut Gregor e dirigia uma
fábrica de móveis e uma empresa farmacêutica na capital argentina.
No dia 11 de maio de 1960, os
comandos da Mossad entraram em Buenos Aires, sequestraram Eichmann e
submeteram-no a interrogatório. Pretendiam saber onde estava Mengele e que
aspeto teria então. Em nome da honra, Eichmann recusou trair o camarada, que
nem sequer apreciava. Não falou.
Alguns
dias depois, o primeiro-ministro judaico Ben Gurion anunciou a captura de Adolf
Eichmann.
Os
criminosos de guerra refugiados na América do Sul assustaram-se. A Segunda
Grande Guerra terminara havia dezena e meia de anos, mas os judeus não
desistiam de os procurar.
As
atenções dos jornalistas de boa parte do mundo voltaram-se para Buenos Aires. A
Argentina era acusada de abrigar criminosos de guerra. O governo da Alemanha
Ocidental ofereceu 20 mil marcos pela captura de Josef Mengele.
Face à
pressão hostil, os círculos nazis da capital argentina desintegraram-se e os
seus membros dispersaram.
Em setembro
de 1960, Mengele entendeu que, para sobreviver, deveria abandonar tudo o que
possuía. Ia nos 49 anos e via-se obrigado a recomeçar, pela segunda vez, uma
existência nova. No mês seguinte, Krug e Rudel, os seus amigos mais chegados,
levaram-no num jipe até à fronteira do Brasil.
Quem
protegeu então Mengele e o ajudou a encontrar abrigo no Brasil foi Wolfgang
Gerhard, amigo de Hans Rudel e antigo dirigente da Juventude Hitleriana na
Áustria. Emigrara em 1948 por não suportar a ocupação da sua Pátria pelos
aliados, mas desprezava os brasileiros, que considerava pertencerem a uma raça
inferior. Era um homem alto e um nazi fanático. Cada ano decorava a sua árvore
de Natal com a cruz suástica.
Gerhard
ajudou Mengele a vender as suas terras no Paraguai por cerca de 20.000 dólares.
Era uma quantia relativamente importante para o Brasil.
Mais ou menos por essa altura, Martha e Josef concordaram em separar-se. Nem ela, nem o filho (então com 16 anos) se adaptavam a partilhar as vidas com um fugitivo. Regressaram à Europa.
Mengele obteve um trabalho provisório em São Paulo, enquanto Gerhard lhe procurava uma situação mais estável.
Foi
alojado numa quinta situada a 300 quilómetros de São Paulo, nos arredores de
Nova Europa, zona onde habitava uma comunidade alemã. A propriedade tinha cerca
de 15 hectares e produzia café, arroz, fruta e leite. Os proprietários eram um
casal húngaro, Geza e Gitta Stammer. Tinham abandonado a pátria por causa da
invasão soviética. Eram pessoas simples e politicamente seguras.
Mengele
foi apresentado como um especialista suíço em pecuária. O seu novo nome era
Peter Hochbichler. Acabaria por viver com Geza e Gitta durante cerca de 13
anos.
Corriam
mundo rumores sobre o paradeiro de Mengele e ocorreram alguns erros de
identificação. A Mossad, contudo, tinha os pés bem assentes no chão. Dois
amigos chegados de Mengel, Krug e Rudel, foram localizados, sem consequências
úteis. A correspondência de Martha era intercetada, mas o antigo médico nazi
era demasiado prudente para transmitir por escrito informações que lhe pudessem
causar perigo.
Zvi
Aharoni, um judeu alemão que integrou o grupo dos sequestradores de Eichmann,
acaba por o localizar no Brasil. Regressou a França para preparar um sequestro.
Foi, entretanto, chamado de urgência para outra missão. O rapto de um rapazito
de oito anos desencadeara uma tempestade política em Israel e Ben Gurion
arriscava-se a perder as próximas eleições. A Mossad chamou Zvi, o “Tigre”, à
operação que planeara. Quando, oito meses depois, o menino foi recuperado,
Mengele mudara de residência.
Na
Nova Europa, Josef sofria com o calor. A terra era pouco produtiva e o trabalho
cansativo.
Procurava adaptar-se ao cultivo do café e cuidava dos animais domésticos. No entanto, não se sentia bem. Lavava-se vezes demais e abusava da água-de-colónia.
Meses depois, Gitta Stammer descobriu por acaso a verdadeira identidade do seu hóspede. Identificou-o numa fotografia patente num jornal de São Paulo. Para comemorar o 17º aniversário da libertação de Auschwitz, o periódico mostrava a fotografia do jovem médico das SS conhecido por Anjo da Morte.
Mengele não podia negar a identificação. Apesar dos anos decorridos, a semelhança era clara. Defendeu-se, declarando que não cometera os crimes de que “a imprensa ao serviço dos judeus” o acusava.
Os
hospedeiros não se preocuparam em demasia com o conhecimento da sua identidade
real. Queriam paz, sossego e dinheiro. No entanto, receavam a vingança dos
judeus. Pensaram em livrar-se do hóspede.
Wolfgang
Gerhard apareceu oportunamente na quinta com dois milhares de dólares americanos.
Serviriam para sossegar os Stammer por um tempo.
Mengele
continuava inquieto. Sobravam-lhe razões para tal. Após a captura de Eichmann,
passava a ser ele o criminoso nazi mais mediático e mais procurado.
Algum
tempo depois, Geza visitou Gerhard em São Paulo. Pretendia sacar mais dinheiro.
Aós alguma demora, Geza Stammer recebeu a resposta. Os Mengele ofereceram-se para
financiar metade de uma nova propriedade. A outra metade seria obtida mediante
a venda da quinta atual.
Semanas mais tarde, os Stammer e Hochbichler mudaram-se para uma quinta isolada na Serra
Negra. Era a fazenda Santa Luzia e ocupava 45 hectares.
Mal se
instalara, Mengele soube do enforcamento de Eichmann. Acontecera a 1 de junho
de 1962. As suas cinzas tinham sido lançadas ao Mar Mediterrâneo, para que
ninguém pudesse orar junto à sua campa.
Meses depois Mengele adoeceu com
febre alta. Poderia ser malária. Gitta cuidou dele. Aos poucos, os carinhos ao
doente foram mudando de tom. Acabou por se lhe meter na cama.
Mengele nunca saia da quinta. O seu único visitante era Gerhard, que lhe
trazia jornais e alguns medicamentos. Ocasionalmente oferecia-lhe também discos
de música clássica.
Em
meados de 1963, Mengele recebeu notícias da família. Os seus parentes em
Günzburgo tinham deixado de ser incomodados e Martha vivia em paz.
Por
outro lado, os caçadores de nazis pareciam ter-lhes dado folga. Israel preocupava-se
mais com os mísseis egípcios do que com os carniceiros do Holocausto.
No
início do ano seguinte, Mengele recebeu uma notícia que amargurou. Uma carta da
Martha informou-o de que os seus diplomas universitários lhe tinham sido
retirados. Por ter violado o Juramento de Hipócrates, tendo cometido
assassinatos em Auschwitz, as Universidades de Frankfurt e Munique anularam-lhe
os títulos de doutor em Medicina e em Antropologia.
Josef
Mengele considerava-se um académico e tinha pretensões a seguir uma carreira
universitária. Achou aquela decisão profundamente injusta. Ele, que procurara
preservar o melhor da sua querida Pátria, olhava agora a Alemanha como injusta
e degradada.
Em nenhum
momento questionou a justeza das suas posições. Fora um soldado do Reich e
continuava a raciocinar de acordo com os conceitos que lhe tinham sido
inculcados: a raça e o sangue eram as motivações essenciais que regiam o
direito, a guerra, o relacionamento dos sexos e também o entendimento, ou o
desentendimento, entre as nações. No modo de ver de boa parte dos alemães da
sua geração, os fracos e os parasitas eram indignos de viver.
Hitler
enfeitiçara os alemães. Soubera incorporar nos seus discursos o sentido
messiânico de purificar a raça, aperfeiçoando a espécie humana, e de dar à
Alemanha o espaço vital de que ela necessitava para cumprir a sua missão quase
divina.
Em
termos pessoais, Josef Mengele considerava ter cumprido a sua parte. Fora
determinado. Uma ou outra vez, eliminara a doença eliminando também os doentes,
como acontecera com alguns surtos de tifo registados nas casernas dos
prisioneiros judeus. Depois, Auschwitz constituíra, de certo modo, uma empresa
lucrativa. Os trabalhadores forçados produziam borracha sintética para a IG
Farben e armas para a Krupp. A fábrica de feltro Alex Zink adquiria à
Kommandatur cabeleiras de mulher e reciclava-os em sapatilhas para as
tripulações dos submarinos. A farmacêutica Bayer testava medicamentos contra o
tifo nos judeus internados nos campos de concentração.
Mengele
não sentia remorsos, nem se arrependia de nada. Considerava que tinha sido a
História a tramá-lo.
Por
vezes, recordava os camaradas. Eram vinte, os seus colegas da SS colocados em
Auschwitz. Trabalhavam junto a eles mais de três centenas de professores
universitários e biólogos.
Lembrava-se bem de alguns. Horst Schumann esterilizava homens e mulheres com raios X. Josef não
entendia bem a razão por que castrava previamente os machos e sujeitava as
fêmeas a ovariectomias. Claus Clauberg implantava fetos de animais nos úteros
de mulheres e esterilizava-as, injetando-lhes no sistema genital produtos à
base de formol. Friedrich Entress inoculava bacilos de tifo nos judeus
aprisionados e matava-os com injeções intracardíacas de formol. August Hirt
injetava hormonas nos homossexuais, antes de os abater.
Uns melhor,
outros pior, todos tinham dado o seu contributo para o Reich. Que seria feito
deles?
Alguns
tinham-se suicidado. Um número restrito fora condenado nos juramentos de
Nuremberga. A grande maioria escondera-se durante algum tempo e acabara por
regressar para junto das famílias e por se reintegrar na sociedade civil. Tal
nunca seria possível para ele, Josef Mengele. Era demasiado conhecido.
Acabou
por passar cinco anos na Serra Negra, sem nunca de lá sair.
Numa
noite de 1967 percebeu que tinha sido definitivamente vencido. Nada era como
dantes. Já quase ninguém pensava como ele. Não entendia o mundo moderno.
Observava na televisão jovens alemães de cabelo comprido a contestar a
autoridade. Na América do Norte, viam-se brancos a defender os direitos dos
negros. Os artistas alemães contemporâneos desagradavam-lhe e a música
psicadélica, no seu entender, afrontava o lirismo de Wagner.
Os
amigos desapontavam-no. Rudel não o visitava desde que se mudara para o Brasil.
Klaus Barbie, “o carniceiro de Lyon” instalara-se na Bolívia com o nome de
Klaus Altman e prosperara. Treinava os oficiais do país nas técnicas de
tortura. Declarou-se disposto a acolher Mengele. O antigo médico nazi não
aceitou a proposta.
A sua
conversa pouco se alterara. Os temas tornaram-se repetitivos: a apologia da raça
nórdica, os judeus répteis, a excelência biológica, o povo alemão orgulhoso e
heroico …
Os
Stammer estavam fartos de o aturar, mas mantinham ligações económicas
importantes com ele. Pressionaram-no a vender em conjunto a quinta e compraram,
também a meias, uma bela propriedade nos arredores de Caieiras, a cerca de 30
quilómetros de São Paulo.
Mengele
tinha quase sessenta anos e viu-se obrigado a segui-los. Mudaram-se no começo
de 1969.
Entretanto,
o seu único amigo fiel dos últimos anos, Wolfgang Gerhard, viu a família
atingida pelo infortúnio: os exames médicos feitos na Áustria mostraram que a
mulher tinha um cancro no estômago e que o filho Adolf contraíra um cancro nos
ossos. Sem dinheiro para custear as despesas Gerhard pediu, pela primeira vez,
auxílio a Mengele.
O nazi
era imune à compaixão. Mostrou-se reticente em interceder junto da sua família,
mas acabou por ceder. Não era homem de afetos, mas receava que, em desespero,
Gerhard acabasse por revelar aos judeus caçadores de nazis o seu paradeiro.
Adoeceu
em julho de 1972. Tinha fortes cólicas abdominais. A sua obstipação habitual
agravou-se e acabou por emitir vómitos fecaloides.
Foi
obrigado a deixar-se observar por um médico. As radiografias mostraram uma
esfera do tamanho de uma bolha de bilhar que lhe obstruía o trânsito intestinal.
Foi operado. Retiraram-lhe do intestino uma enorme bola de pelos. A ansiedade e
a tendência compulsiva tinham-no levado a mordiscar e engolir, ao longo dos
anos, os pelos do bigode. Não haviam sido expelidos. Com o tempo, tinham-se
aglutinado até formarem um objeto sólido.
Algum
tempo mais tarde, o doente relatou por escrito a sua experiência. Tivera de
resistir à tentação de discutir com os colegas o próprio caso clínico. Os seus conhecimentos
iriam denunciar a profissão de médico.
Mengele
sobreviveu, mas sentia-se abalado. Contatou que envelhecera.
Com o passar dos anos, Josef Mengele tornou-se ainda mais maçador.
Intrometia-se, por carta, na vida dos familiares (alguns dos quais mal conhecia)
e exigia constantemente dinheiro e atenção. Na correspondência com o sobrinho,
continuava a louvar o Führer e o eugenismo e criticava a República Federal
Alemã.
O
antigo médico nazi constituía um fardo para a própria família, mas o clã de
Günsburg não podia abandoná-lo: se fosse capturado, a revelação dos seus laços
com o Anjo da Morte poderia abalar os
alicerces da empresa multinacional que faturava anualmente centenas de milhões
de dólares e contava com mais de dois mil empregados.
Wolfgang
Gerhard achou que Mengele levava uma vida demasiado solitária. Pareceu-lhe
conveniente que encontrasse novos amigos e outros companheiros de conversa.
Apresentou-lhe um casal de nazis austríacos, Wolfram e Liselotte Bossert. Wolgram
fora cabo do exército austríaco e deplorava a humilhação que a Alemanha sofrera
no final da guerra. Era conhecido por Musikus,
no seu círculo mais chegado. Interessava-se por filosofia e literatura alemã,
embora estivesse longe de deter a cultura de Josef Mengele.
A
iniciativa de Gerhard resultou e Mengele passou a frequentar regularmente a
casa dos Bossert. Jantava com eles quase todas as quartas-feiras. Falavam
essencialmente dos “valores eternos” da vida alemã antes da guerra. Partilhavam
diversos pontos de vista, incluindo o antissemitismo.
Entretanto,
na propriedade de Caieiras, os acontecimentos precipitaram-se. Por motivos
fúteis, Mengele deu uma bofetada em Gitta. Geza agarrou Mengele pelo pescoço e
correu com ele de casa.
Mengele
teve de instalar durante uns dias no domicílio de Bossert, o o seu novo amigo,
enquanto Sedlmeier voltava a atravessar o Atlântico para tentar acalmar os
Stammer com nova oferta de dinheiro.
Desta vez,
a iniciativa não resultou. No final de 1974, os Stammer venderam a propriedade
de Caieiras e instalaram-se numa moradia luxuosa em São Paulo. Mengele e o seu
cão “Cigano” tinham dois meses para abandonar a casa. Gitta enganou-o: com uma
pequena fração da parte que lhe correspondia na venda da propriedade, comprou-lhe
uma casinha de estuque em Eldorado, um arrabalde deserdado de São Paulo. Sabia
que Mengele não podia recorrer à justiça. Ao menos, ficava próximo da morada
dos Bossert.
A casa
era demasiado modesta e necessitava de obras. Mengele chamava-se agora Pedro. Ainda
começou as reparações, mas faltou-lhe o ânimo.
Detestava
o bairro onde passara a habitar: “um covil de pretos e mulatos debochados, de
bandidos e de drogados”.
A 16
de maio de 1976, Josef Mengele sofreu um acidente vascular cerebral. Recuperou,
mas ficou diminuído. O seu feitio estava cada vez pior. Os seus novos amigos
deixaram de ser capazes de o aturar. Puseram um anúncio num jornal: “precisa-se
mulher-a-dias, boa cozinheira, paciente e dedicada para um parente idoso”.
Respondeu
uma mulher angulosa com cerca de trinta anos. Era Elsa Gulpian de Oliveira. Foi
ela quem cuidou de Mengele nos últimos anos de vida.
Entretanto,
o seu único filho, Rolf Mengele, adotara um posicionamento político de
centro-esquerda. Licenciado em Direito, tornara-se, de certo modo, a ovelha
negra da poderosa família Mengele cuja fábrica dominava a pequena cidade de
Günsburg desde a primeira guerra mundial.
Ao
longo da vida, Rolf convivera com o pai durante apenas algumas semanas.
Procurando
uma síntese para as contradições que lhe queimavam a alma, visitou o progenitor
no Brasil, em outubro de 1977.
O encontro desapontou-o. Josef Mengele era um homem frio, seco e egoísta. Não
sentia qualquer remorso pelas mortes que carregava às costas.
Rolf
regressou à Alemanha mais sozinho e triste do que viera.
A
saúde de Josef Mengel continuou a piorar. De visita a uns amigos, sentiu-se mal
ao nadar na praia da Enseada, junto a Bertioga, perto de São Paulo, e morreu
afogado. Estava-se em fevereiro de 1979 e Josef Mengele contara 68 anos.
Foi
enterrado em Embu com o nome de Wolfgang Gerhard. Usara durante anos o cartão
de identidade do seu antigo amigo.
Até ao final da vida, Josef Mengele mostrou-se orgulhoso pela sua
atuação em Auschwitz.
Sonhara
com a notoriedade e alcançou-a. O seu nome dificilmente será riscado das
páginas mais negras da História da Medicina.
Os
registos das experiências tenebrosas que levara a cabo em Auschwitz valiam muito menos do que ele pensara. Os sacrifícios dos prisioneiros judeus foram inúteis.
Dali não saiu qualquer informação que acrescentasse o saber médico.
APOIO
BIBLIOGRÁFICO
Aziz, Philippe. Os médicos da Morte.
Desassossego, Porto Salvo, 2019.
Guez, Olivier. O desaparecimento de
Josef Mengele. Planeta Manuscrito, Lisboa, 2028.
Posner, Gerald
e Ware, John. Mengele – o médico
responsável pelas terríveis experiências de Auschwitz. A Esfera dos Livros,
Lisboa, 2006.
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