A MEDICINA EM MACAU
I
Dou hoje início a uma série de artigos sobre a História da Medicina em Macau. Assentam na obra monumental do padre Manuel Teixeira, historiador autodidata que fez um levantamento exaustivo da documentação referente à Medicina no território e refletiu sobre ela. O seu trabalho contempla a assistência médica, a nosologia e referências detalhadas à atividade dos médicos, portugueses ou não, que exerceram clínica em Macau entre os séculos XVI e XX.
Será desnecessário enaltecer o trabalho deste ilustre sacerdote, mas parece conveniente divulgá-lo. Comecemos pela biografia.
Manuel Teixeira nasceu em 1912 em Freixo de Espada à Cinta, no Alto Douro. Mal acabou a instrução primária, partiu para Macau onde frequentou o Seminário de S. José, tendo sido feito padre em outubro de 1934. Passou quase toda a sua vida no Oriente. Regressou a Portugal com 89 anos e morreu em Chaves, em setembro de 2003.
Há homens que abençoam as terras onde trabalham. Ganhando pouco ou nada com o próprio esforço, fazem mexer os pequenos mundos que habitam. Dinamizam-nos e empurram-nos para diante. Muito para além do seu trabalho religioso, Manuel Teixeira desenvolveu uma importante atividade cultural.
Começou, logo aos 22 anos, a dirigir o «Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau». Chamou a si um par de colaboradores de grande valor. No final dos 13 anos da sua direção, o Boletim tinha já alcançado um certo prestígio internacional.
Fundou, em 1942, em plena Grande Guerra, a revista mensal «O Clarim» e ajudou a criar o semanário «União».
Finda a guerra, em 1948, foi enviado para Singapura como missionário e Vigário Geral das Missões Portuguesas de Singapura e Malaca. Fundou ali a revista «Rally», em língua inglesa.
O padre Manuel Teixeira dedicou ao ensino boa parte da sua vida. Entre 1932 e 1970, foi professor no Seminário de São José, no Colégio de São José, na Escola Comercial Pedro Nolasco e no Liceu Nacional Infante D. Henrique.
Edifício antigo da Escola Pedro Nolasco
O Liceu funcionava em 1950, na Avenida Conselheiro Ferreira de Almeida (Tap Seac).
Edifício onde funcionava o Liceu antigo
Nas duas décadas seguintes, dirigiu os «Arquivos de Macau» e o «Boletim do Instituto Luís de Camões».
Manuel Teixeira dedicou à História de Macau e à presença portuguesa no Oriente o melhor do seu esforço. Publicou 123 livros de investigação histórica. Foi, no dizer do seu Bispo José La, o mais prolífico dos historiadores de Macau.
Em 1981 e 1983, recebeu, os prémios de História da Fundação Calouste Gulbenkian pelas suas obras «Os Militares em Macau» e «Toponímia de Macau».
Em 1984, o Papa João Paulo II nomeou-o «Capelão da Santa Sé». Trata-se dum cargo honorífico que dá direito ao tratamento por «Monsenhor». O governo português outorgou-lhe diversas condecorações.
As honrarias multiplicaram-se: foi membro da Associação Internacional de Historiadores da Ásia, da Academia Portuguesa de História e da Academia Portuguesa de Marinha, sócio correspondente da Sociedade de Geografia de Lisboa, sócio da Sociedade Científica Católica Portuguesa, vogal do Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, vogal do Conselho da Universidade da Ásia Oriental e Doutor Honoris Causa em Letras da Universidade da Ásia Oriental.
Interessam-nos, acima de tudo, os seus trabalhos de investigação no âmbito da História da Medicina. O padre Manuel Teixeira dedicou quatro livros à história da nossa profissão em terras do Oriente. Foram reeditados, em 1998, pelo governo de Macau, sob o título «A Medicina em Macau». A administração portuguesa começara já a aviar as malas.
Fotografias: Internet
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