A MEDICINA EM MACAU
IV
ATAQUE A UMA LEPROSARIA
ATAQUE A UMA LEPROSARIA
O
padre Manuel Teixeira era uma das figuras típicas de Macau. Dava nas vistas com
o seu hábito branco e as longas barbas da mesma cor. Dizia-se que era
malandreco e que apreciava as tailandesas, mas maldizentes há-os em toda a
parte.
Mesmo
já avançado em anos, dava longos passeios a pé pelas ruas de Macau. Com alguma
frequência, para fazer exercício, percorria a «ponte velha» nos dois sentidos. «Ponte
velha» é o nome que dão os macaenses, à ponte que liga a península de Macau à
ilha da Taipa, apesar de ter sido concluída apenas em 1974. Foi projetada por
Edgar Cardoso. Com mais de dois quilómetros e meio de comprimento, chegou a chegou
a ser considerada «a ponte contínua mais longa do mundo».
Toda
a gente o conhecia. Ofereciam-lhe boleia, quando passavam por ele de automóvel.
─
Senhor padre… Quer boleia?
Monsenhor
Manuel Teixeira recusava sempre. Se insistiam, zangava-se.
Quando
adoeceu, passou muito tempo no Hospital Conde S. Januário, após a recuperação.
Como não podia residir ali, o governo de Macau acabou por lhe pagar um quarto
na pousada.
Depois
de 77 anos em Macau, Monsenhor Manuel Teixeira regressou a Portugal. Em vez da
terra natal (Freixo de Espada-à-Cinta), escolheu Chaves para passar os dias
finais da sua vida. Declarara repetidamente tencionar «acabar» em Macau. Poderá
ter entristecido com a transferência da soberania de Macau para a
República da China e com o êxodo da população europeia.
No
aeroporto, o missionário foi recebido pelo último governador português de
Macau, general Rocha Vieira. Instalou-se no Lar de Santa Marta, ao qual doara,
ao longo de várias décadas, quantias importantes de dinheiro.
MACAU - ANTIGA PRAIA GRANDE, HOJE OCUPADA POR EDIFICIOS
Depois
de mais este apontamento biográfico, vou transcrever um relato curioso dos
muitos em que o livro de Manuel Teixeira é fértil. Este blogue intitula-se
historinhasdamedicina. Pretende, desde o início, dar realce às historiazinhas
que acontecem no decurso da História.
A
3 de setembro de1885, o tenente Lemos enviou um ofício à secretaria do governo:
«Pelas 20 horas da noite do primeiro do
corrente assaltaram o hospício de Kao hó, uns doze piratas armados de taifós
(espadas curtas) e de pistolas, roubando toda a roupa de inverno das leprosas e
o arroz que lhe havia sido distribuído para o rancho até 15 deste mês.
Os piratas dirigiram-se primeiro à
casa do guarda, a cuja porta bateram para que viesse apresentar-se ao
comandante da Taipa ─ disseram eles que estava ali à sua espera.
O guarda foi o primeiro roubado.
Dali foram ao hospício, arrombaram a
janela do lado da cozinha por onde entraram, e abriram em seguida uma porta.
Roubaram aí a roupa das leprosas e
algum dinheiro na importância de sete patacas e 160 cates de arroz.
Pela meia-noite retiraram os piratas
embarcando num pequeno sapatião que os esperava na praia.
Já mandei proceder a concertos da
janela, em virtude da autorização que recebi para esse fim.»
As
suspeitas recaíram em Lao teng yao e nos seus companheiros, que foram presos
cerca de três meses depois em Cantão por outros crimes de pirataria, praticados na
vizinhança de Hong Kong. O grupo tinha um nome pomposo - sociedade secreta Sam-hap, mas os seus membros levavam uma existência miserável e frequentavam uma casa de ópio.
Em
1959, a forma clínica mais frequente de lepra em Macau era a tuberculoide. Atingia 28
dos 47 doentes internados na leprosaria de Ká-Hó, na ilha de Coloane. A proporção dos doentes tratados em consulta
externa era semelhante.
FOTOGRAFIAS: RETIRADAS DA INTERNET.
FOTOGRAFIAS: RETIRADAS DA INTERNET.
Sem comentários:
Enviar um comentário