DE HUMANIS CORPORI FABRICA
UMA INTRODUÇÃO À OBRA DE VESÁLIO
I
Quando,
no último dia de 2014, publiquei aqui um pequeno artigo a assinalar o quinto
centenário do nascimento do grande anatomista André Vesálio, prometi voltar a
falar da sua figura e dos seus trabalhos. É o que faço agora. O texto que se
segue tem ambições modestas. As fontes de que me servi foram limitadas. Não
adquiri livros, não me levantei da cadeira em que me sento quando escrevo, nem
saí do espaço virtual para fazer investigações. Tudo o que li está na Internet.
O meu objectivo é divulgar a importância da obra de Vesálio e o reflexo que teve na Medicina dos nossos dias.
A Fabrica não foi o único trabalho publicado por André Vesálio. Antes e depois dele,
o anatomista produziu outros escritos de menor fôlego.
Na Paraphrasis in nonum
librum Rhazae ad Regem Almansorem (Lovaina, 1537), Vesálio comparou as
concepções terapêuticas galénica com as do médico e alquimista árabe Rhazes
(854-925) sem se comprometer.
Imagem fictícia de Rhazes
Inclinou-se para o lado de Galeno, respeitando,
contudo as opiniões de Rhazes.
No ano seguinte, apresentou, em Veneza, as
Tabulae anatomicae sex.Tratava-se de seis grandes desenhos anatómicos feitos
por ele próprio, com base nas suas dissecções.
Destinavam-se a facilitar o
estudo aos seus alunos e representavam as veias cava e porta, as artérias e o
sistema nervoso.
Ainda em 1538, fez sair uma edição revista e aumentada do
manual de disseção de Guinter de Andemach, seu antigo professor em Paris.
Em
1539, Vesálio publicou em Basileia um trabalho em que expunha a sua opinião
sobre a sangria: Epistola docens venam axillari dextri cubiti in dolore
laterali secundam.
Em
1546, opinaria sobre a terapêutica médica num artigo bastante contestado,
intitulado Epistola rationem modunque propinandi radices chynae.
Em
1543, imediatamente antes da publicação da Fabrica, fez imprimir o Epitome,
provavelmente uma das suas obras menos conhecidas. Tratava-se de um resumo da
Fabrica, destinado aos seus alunos e preparado segundo uma concepção
revolucionária de ensino.
A segunda parte do livro, escrito em latim, era
composta por onze gravuras anatómicas com índices. O leitor era convidado a
recortar as duas últimas e a colá-las nas anteriores, emprestando aos desenhos
uma dinâmica até então desconhecida nas universidades.
Falópio
Em 1564, André Vesálio fez editar em
Veneza o trabalho a que chamou Anatomicarum Gabrielis Fallopii observationem
examen, em que aceitava parte da críticas que Falópio lhe dirigira e refutava
outras.
Apesar
de terem importância científica e histórica, esses trabalhos foram eclipsados
pela publicação, em 1543, da sua obra monumental De humani corporis fabrica,
que teria uma segunda edição revista em 1555.
Vesálio
levou dois anos a completar a Fabrica. Recorreu a ilustradores da oficina de
Ticiano. Diz-se que as tábuas anatómicas (não assinadas) foram desenhadas
por Jan Stephen van Calcar, mas não existe consenso quanto a isso.
Não
foram descuradas a preparação das gravuras em madeira nem o trabalho de
impressão, que o anatomista encomendou a Joannes Oporinus, em Basileia.
(Continua)
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