JOAQUIM BARRADAS
A ARTE DE SANGRAR
DE CIRURGIÕES E BARBEIROS
O
título do livro induz em erro. Joaquim Barradas não se limita a estudar a
história da sangria. Ao longo das 247 páginas do seu trabalho, resume a história da
Medicina, de Hipócrates ao dealbar da época modera. Cirurgião que é, defende a
sua dama, sem deixar de atentar nas grandes conceções de que enfermou a nossa
Arte, dando realce à descrição crítica da teoria dos humores. Presta a atenção
devida aos estudos anatómicos, à emancipação da Cirurgia em França e à sua
prática no Hospital Real de Todos os Santos. Refere o passado da sangria, mas
também do seu presente, ao citar o tratamento da Policitemia rubra vera.
Voltarei
a tratar deste livro interessantíssimo, num futuro próximo. Nesta introdução,
irei sublinhar apenas as duas indicações que o autor defende para a prática da
sangria nos tempos antigos: o tratamento das hérnias encarceradas e
estranguladas e os ferimentos em combate.
Nas hérnias estranguladas, o
relaxamento muscular obtido pela extravasão de sangue levado até à perda de
consciência permitiria «manipular a hérnia e forçar o intestino para dentro da
cavidade abdominal».
As motivações para a sangria dos que caíam na luta eram bem diferentes e aproximavam-se da eutanásia, ainda que não seja certo
que essa intenção tenha estado sempre presente na mente dos cirurgiões de
batalha. Passo a citar Joaquim Barradas.
No fim da batalha, muitas
vezes, ficavam milhares de feridos no terreno, que chegavam a passar uma noite
inteira ao relento, sem assistência, tendo por companhia milhares de mortos e
os lamentos dos companheiros igualmente feridos. No ar, um cheiro adocicado a
sangue ajudava a compor o inferno… … A
sangria iria prejudicar a recuperação dos feridos e afetar a sua robustez,
contribuindo para agravar o estado geral… … Na ausência de outras formas de
aliviar o sofrimento, sem dúvida que a sangria foi benéfica para muitos
soldados… … A sangria feita no campo de batalha embotava a perceção da dor e
provocava alguma obnubilação que transportava os soldados para um nível de
consciência que, de alguma forma, os afastava do sofrimento…
A
ser assim, tratava-se de um modo de exercer a piedade. As Valquírias
tornavam-se bem-vindas.
Imagens: Capa do livro e Internet.
Editora:
Livros Horizonte, 1999.
Felicito Dr. Joaquim Barradas por este livro essencial para quem se interesse pela História da Medicina!
ResponderEliminarAbraço Dr. António Trabulo!
Felicito o Dr. Joaquim Barrada (excelente clínico).Joel Rodrigo Ferreira Silva (de Setubal) Fui seu doente através da Dra e foi comigo que fez das primeiras intervenções no tratamento de hérnias do esófago (fundoplicatura de Nissen)
ResponderEliminarsou barbeiro.tenho 30 anos de idades...mi emociono quando.vejo historia e sinto que posso ir alem !ser medico!
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