“AR”
E OUTRAS MALEITAS
O “Ar” seria uma paralisia
provocada pelo ar corrupto. Bluteau atribui-lhe o significado de “acidente de
paralisia”.
A pesquisa a que procedi na Internet deu
resultados insuficientes para caracterizar o suposto mal. Não fui capaz de
entender se o “vento excomungado ou ar brabo” que passou causando paralisia em
alguma parte do corpo (Rezas e simpatias – Professora Marly) e “ar arrenegado”
de Manezinho da ilha (blogue Folclore) englobam ou não as inúmeras doenças neurológicas
que provocam paralisias ou parésias, com relevância estatística para os
acidentes vasculares cerebrais.
José Pedro Paiva dedica
mais atenção à terapêutica do “Ar” que ao seu diagnóstico. Descreve várias
fórmulas de tratamento.
Maria Fernandes, a Grila
de alcunha, da freguesia de Macinhata de Seixa tratava os seus doentes com
rezas: Fulano, pela graça de Deus e da
Virgem Maria aqui te tiro o ar da noite e o ar da lua e o ar da morte e o ar do
vivo e o ar de toda a coisa ruim, com S. Pedro e S. Paulo e todos os santos e
santas.
António Martins, da
freguesia de Avelãs de Cima, denunciado pelo próprio filho, mandava pôr o pé direito do doente sobre uma
tábua em que tinha botado terra e o cercava com uma ponta de faca e isto antes
do meio-dia e em tempo em que o sol fosse descoberto, e nunca depois do meio-dia,
nem quando estivesse turvo e que nesse tempo rezava, e que da terra que estava
debaixo do pé direito do enfermo, metia em uma bolsinha e a punha ao pescoço do
doente e que lhe mandava rezar nove Padre-nossos e nove Ave Marias por espaço de
nove dias.
José Pedro Paiva descreve
ainda os tratamentos praticados pelos curandeiros para o “Mal do sentido”, que
designava uma série de afeções ortopédicas, o “Cobrão”, palavra que ainda hoje
é usada como sinónimo de Herpes Zooster ou Zona e abarcava uma série de irritações
cutâneas atribuídas ao contacto com um animal repelente como as cobras, aranhas
e lagartos. O “Fogo” ou “Osagre” era outra afeção cutânea que provocava ardor.
As lombrigas eram tratadas principalmente com rezas e as mordeduras de répteis
e de “cães danados” com rezas e ervas “virtuosas”.
As feridas, designadas por
“carne talhada” ou “carne rendida”, eram vulgarmente tratadas aplicando sobre
elas panos em forma de cruz. O benzedor bafejava-as e recitava algumas palavras
em voz baixa. Havia quem colocasse sobre os ferimentos “uma massinha de pão com
azeite, que era boa para puxar as matérias”.
Dou aqui por findas as
referências ao livro do historiador José Paiva e às citações da sua obra cheia
de interesse. Tenciono rematar esta série de pequenos artigos sobre as práticas
de curandeiros e benzedores com o testemunho de um “curador" atual.
Fontes
José Pedro Paiva. Práticas e crenças mágicas. O medo e a necessidade dos mágicos na Diocese de Coimbra (1650 – 1740). Minerva Histórica, Coimbra, 1992.
Internet.
José Pedro Paiva. Práticas e crenças mágicas. O medo e a necessidade dos mágicos na Diocese de Coimbra (1650 – 1740). Minerva Histórica, Coimbra, 1992.
Internet.
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