BREVE HISTÓRIA DO HOSPITAL KENG-WU
Comecemos
pelo nome. Keng-Wu significa «lago do espelho», uma das 11 designações poéticas
da cidade de Macau. Assim «Hospital Keng-Wu» quer dizer apenas «Hospital de
Macau». O seu patrono é o lendário cirurgião chinês Hua Tuo, também chamado
Hua-Tó e Vá Tó. Hua Tuo foi deificado após a morte e é adorado em vários
altares de Macau.
Primeiro hospital Keng Wu
Nas últimas décadas do século XIX desencadeou-se, entre os chineses ricos, um movimento de solidariedade para com os desvalidos. Culminou na fundação de hospitais e de outras instituições caritativas em diversas cidades chinesas. Em Cantão, Macau e Hong Kong foram também criados hospitais para os pobres.
Nas últimas décadas do século XIX desencadeou-se, entre os chineses ricos, um movimento de solidariedade para com os desvalidos. Culminou na fundação de hospitais e de outras instituições caritativas em diversas cidades chinesas. Em Cantão, Macau e Hong Kong foram também criados hospitais para os pobres.
O
Hospital Keng Wu foi fundado por elementos proeminentes da comunidade chinesa
de Macau por volta de 1870. Tinha por finalidade proporcionar consultas
médicas, fornecer medicamentos, recolher cadáveres e dar-lhes sepulturas
gratuitas. A benemérita instituição ultrapassava em muito as funções de um
hospital: ajudava a reparar as ruas da cidade, socorria os sinistrados por
ocasião de calamidades, fundava escolas, arbitrava querelas, oferecia chás e
vendia produtos essenciais a preços inferiores ao do mercado.
Sun Yat Sen no Hospital Keng Wu
Durante os primeiros dez anos de existência, apenas foi ali praticada a medicina tradicional chinesa. Em 1892 deu-se o acontecimento mais relevante da sua história: o Dr. Sun Yat Sen, futuro «pai da China moderna» iniciou a prática da medicina e cirurgia europeia naquela instituição. Durante meio século, trabalharam, lado a lado, no Hospital Keng Wu mestres chinas e médicos formados em universidades de saber ocidental.
Durante os primeiros dez anos de existência, apenas foi ali praticada a medicina tradicional chinesa. Em 1892 deu-se o acontecimento mais relevante da sua história: o Dr. Sun Yat Sen, futuro «pai da China moderna» iniciou a prática da medicina e cirurgia europeia naquela instituição. Durante meio século, trabalharam, lado a lado, no Hospital Keng Wu mestres chinas e médicos formados em universidades de saber ocidental.
Em
1917 procedeu-se a uma coleta para a construção dum novo edifício com
maternidade. O projeto recebeu uma ajuda importante de José Carlos da Maia,
oficial da Marinha Portuguesa e herói da Revolução Republicana de 1911, que governou
Macau entre 1914 e 1916 e exerceu, durante alguns meses do ano de 1918, o cargo
de ministro da Marinha. Este amigo de Macau levou o governo português a
conceder um subsídio importante, ainda que minoritário, para a edificação do
novo hospital. José Carlos da Maia viria a ser barbaramente assassinado na Noite Sangrenta de 19 de outubro de
1921.
Em
1923, foi criada uma Escola de Enfermagem no hospital Keng Wu. Em 1930, foi determinado que os
«médicos de dia» permanecessem no hospital o dia inteiro. Em 1936 foram
publicados anúncios nos jornais, pedindo médicos europeus. Em 1941 já existia
um Regulamento para os médicos europeus do hospital.
Em
1943, deu-se uma reviravolta na orgânica da instituição. Acabou o exercício da
medicina tradicional chinesa, restando apenas a europeia. No mesmo ano foi
fundado um asilo para crianças. Receberia cem rapazes abandonados, ainda nesse
ano, e mais trezentos no ano seguinte. Seria extinto após o final da II Grande
Guerra.
Entre
1941 e 46, a entrada massiva de refugiados de guerra em Macau sobrecarregou o
hospital.
Os
arquivos recolhidos pelo padre Manuel Teixeira referem repetidamente os
contributos do hospital para a fundação e reparação de cemitérios.
Curiosamente,
essa preocupação poderá estar relacionada com a elevada mortalidade ocorrida nos doentes internados durante os primeiros anos de existência do
hospital. Escreveu o Dr. Lúcio da Silva, no seu relatório de 1883: «… sendo
portanto a mortalidade maior que aquela que houve no nosso hospital de S.
Rafael, o que não admira, atendendo às péssimas condições dos doentes que são
conduzidos ao hospital chinês». O Dr. Tovar de Lemos descreveu-o assim, em
1886: «O hospital china, situado fora da cidade, está entre o bairro china em
que estão os tins-tins e o cemitério. (Tins-tins eram os vendedores ambulantes
que golpeavam uma chapa com um martelo para chamar a atenção dos fregueses). É
um vasto edifício, com extensíssimas enfermarias, estando porém os doentes, dois a dois, isolados por delgadas paredes; os quartos têm duas tarimbas de suja
madeira, uma pequena almofada de loiça ou madeira que serve de travesseiro. Os
chinas estão vestidos e não usam cobertores nem lençóis. Nada mais há nos
quartos. A alimentação é fraquíssima; consta principalmente de arroz.»
Hospital Keng Wu nos dias de hoje
Hospital Keng Wu nos dias de hoje
A modernização do Keng Wu desenrolou-se progressivamente. Em 1944
fez-se a sala de operações, que começaria a funcionar no ano seguinte. Em 1948,
foi adquirido equipamento de Raios X e ultra-violetas. Em 1950, organizou-se a
secção de ginecologia. Em 1952, fundou-se um consultório de dentista. Em 1956,
inaugurou-se a casa «Ho Cheng Kai», para residência de enfermeiros. Em 1961,
foi criado um pavilhão de isolamento para portadores de doenças contagiosas.
Os
resultados da evolução registada foram reconhecidos por todos. O padre Manuel
Teixeira escreveu, em 1998:
Outrora, os chineses, crendo-se
superiores pela sua experiência milenária, recusavam a nossa medicina,
consultando os seus herbanários e mestres chinas. Hoje, eles próprios estudam a
medicina europeia e têm médicos muito competentes. Só no Keng Wu há nada menos
de 35 médicos, com bons especialistas, que não são nada inferiores aos nossos.
A época dos «mestres chinas» ou
curandeiros já passou. Ainda se veem nalgumas casas tabuletas com esses nomes,
mas já perderam a sua influência e clientela.
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