MEDICINA CHINESA TRADICIONAL
A OBSERVAÇÃO DO DOENTE
À primeira vista, parece existir, da parte dos clínicos chineses, uma preocupação de objectividade que faz lembrar os ensinamentos de Hipócrates. Recorde-se que o médico grego foi contemporâneo de Confúcio. O velho texto Shi Ji, compilado no século V a.C., refere a necessidade de observar cuidadosamente o enfermo: olhar, ouvir, cheirar, perguntar e tocar. No entanto, a semiologia chinesa perde-se em pormenores intrincados e fantasiosos.
A
observação do doente começa por um olhar de relance sobre o seu tipo físico,
personalidade e estado de espírito.
A obesidade denuncia a deficiência do Qi, enquanto a magreza excessiva aponta para a fraqueza do sangue e do Yin. Se o doente fala em demasia, sofre provavelmente do coração. Se grita com facilidade, estarão em causa o fígado ou a vesícula. Se chora ou suspira, o mal está nos pulmões. Os gemidos, os bocejos e o ressonar indiciam o mau funcionamento dos rins. O brilho do olhar permite avaliar o estado de espírito (Shen).
A obesidade denuncia a deficiência do Qi, enquanto a magreza excessiva aponta para a fraqueza do sangue e do Yin. Se o doente fala em demasia, sofre provavelmente do coração. Se grita com facilidade, estarão em causa o fígado ou a vesícula. Se chora ou suspira, o mal está nos pulmões. Os gemidos, os bocejos e o ressonar indiciam o mau funcionamento dos rins. O brilho do olhar permite avaliar o estado de espírito (Shen).
Pergunta-se pela profissão exercida. Para além de se informar sobre os hábitos e as preferências alimentares do doente, o médico quer saber das suas mágoas e preocupações pessoais e interroga-o sobre o sono. A sonolência excessiva indica deficiência do Qi e do Yang, enquanto as insónias traduzem uma atividade excessiva do Yang.
As características da dor são esmiuçadas. Interessa o tipo da dor, a sua localização e as circunstâncias em que surge. As dores resultantes da deficiência de Qi ou de sangue melhoram com a ingestão de alimentos ou com a pressão no ponto doloroso. Naturalmente, as dores que melhoram pelo aquecimento são originadas pelo estado de frio e as que aliviam com o arrefecimento pelo estado de calor. Existem também as dores desencadeadas pelo estado de humidade e as móveis, provocadas pelo estado vento. As dores fixas podem ser causadas pela má circulação (ou «congelamento») do sangue.
A seguir, palpam-se atentamente os pulsos e observa-se a língua, os olhos e o hálito.
As características da dor são esmiuçadas. Interessa o tipo da dor, a sua localização e as circunstâncias em que surge. As dores resultantes da deficiência de Qi ou de sangue melhoram com a ingestão de alimentos ou com a pressão no ponto doloroso. Naturalmente, as dores que melhoram pelo aquecimento são originadas pelo estado de frio e as que aliviam com o arrefecimento pelo estado de calor. Existem também as dores desencadeadas pelo estado de humidade e as móveis, provocadas pelo estado vento. As dores fixas podem ser causadas pela má circulação (ou «congelamento») do sangue.
A seguir, palpam-se atentamente os pulsos e observa-se a língua, os olhos e o hálito.
A
palpação do pulso reveste-se de uma complexidade extraordinária. Foram escritas
centenas de livros sobre esta matéria. Dizem alguns que existem onze pontos
para apreciar as suas setenta e quatro variedades. No entanto, é geralmente
escolhido o pulso radial, dos dois lados, palpado com os dedos indicador,
médio e anelar. Nos homens, é mais importante o exame da mão esquerda e, nas
mulheres, o da direita.
Cada
dedo distingue as indicações obtidas pelos bordos interno e externo. A pressão
exercida é diferenciada e são tidas em consideração as pulsações superficiais,
intermédias e profundas. Há sete variedades de pulso superficial. Contam-se
entre elas o pulso flutuante, que «desliza como um peixe na água ou um pedaço
de madeira a boiar», o escorregadio «como um colar de pérolas a escorregar por
entre os dedos» e o apertado e comprimido, «como uma corda a ser torcida». As
variantes do pulso profundo são oito. Pode ser disperso e lento, «como o chorão
soprado pela brisa primaveril», ou irrequieto e a mover-se «como um coxo, como
a faca que apara a haste de bambu, ou como gotas de chuva a caírem no solo
arenoso». Para valorizar os dados recolhidos, são tidos em consideração a
idade, o sexo, o estado de alma, a hora do dia, a estação do ano e as
influências astrais.
Representação gráfica das pulsações dos pontos superficiais e profundos
A cada víscera corresponde um pulso privativo que denuncia as alterações do seu funcionamento. Existem
padrões referenciais para os pulsos superficial e profundo de cada órgão:
O pulso do coração deve ser como o
movimento de uma foice, vibrante no início e subtil em seguida;
O dos pulmões deve fluir sempre
igual e muito suavemente, como o cabelo ou as penas sopradas pela brisa;
O pulso do fígado vibrará como a
corda dum instrumento musical.
A
interpretação da variação das cores do rosto é difícil, estando apenas ao
alcance dos verdadeiros mestres. Eles conseguem, mediante esta observação,
aceder a verdades autênticas, pois «na face transparece todo o Qi e todo o
sangue dos meridianos». Os livros que abordam o assunto não são claros para todos.
As cores «vão do branco ao negro, passando pelo vermelho, o amarelo pálido ou
escuro, o laranja e o chêng (cor indefinida que oscila entre vários tons de
verde e azul). O escurecimento do rosto indica uma desarmonia extrema, sendo o
mal difícil de curar.
Na
língua, observam-se a cor e a textura e procuram-se secreções ou mucosidades. Cada
zona da língua espelha o funcionamento dum órgão. A ponta é controlada pelo coração
e a região contígua está relacionada com os pulmões. O centro tem a ver com o
baço e o estômago. Em ambos os lados, o domínio pertence ao fígado e à vesícula
biliar.
O
médico chinês atenta ainda nas secreções e excreções (relatadas ou observadas),
no tom da voz, na tosse, no ritmo da respiração, no odor corporal e no hálito.
O
hálito «podre» localiza o mal nos pulmões ou no cólon. O «pestilento» aponta
para doença do rim ou da bexiga. O «rançoso» indica o fígado ou a vesícula
biliar. O «ardente» traduz o mau funcionamento do coração ou do intestino
delgado.
Na
medicina tradicional chinesa, a observação do doente é um processo demorado.
Deve ressaltar-se a importância dada à semiologia do pulso. Quando um chinês de
Macau ia ao médico, utilizava a expressão tai-mak,
que significa «ver o pulso».
Bibliografia:
Na
preparação deste artigo e dos precedentes, recorreu-se a:
Medicina Chinesa – em busca do equilíbrio
perdido, de Cecília Jorge e Beltrão Coelho.
Alguns
aspetos da medicina tradicional chinesa – artigo de Ana Maria Amaro, transcrito
pelo padre Manuel Teixeira no seu livro Medicina em Macau.
Notas
sobre a Medicina chinesa, de José Caetano Soares, também transcrito pelo padre
Manuel Teixeira no seu livro Medicina em Macau.
Sem comentários:
Enviar um comentário