UM OLHAR SOBRE A MEDICINA CHINESA
A ANATOMIA
O
culto dos mortos interditava os estudos anatómicos, o que tornou a anatomia
chinesa fantasiosa. A título de exemplo, o esqueleto humano seria composto por
360 ossos, não porque os tivessem contado (são 206, com variações) mas porque
era esse o número das divisões do zodíaco.
A
tradição chinesa privilegia o número 5. São 5 os elementos constituintes da
natureza, 5 os planetas principais, 5 as cores mais admiradas e 5 os pontos
cardeais (além dos nossos, incluem o Centro). Teriam de ser 5 as vísceras
principais: fígado, baço, coração, pulmões e rins, todas dependentes do
princípio feminino Yin. São também 5 as vísceras dependentes do princípio
masculino Yang: intestino delgado, intestino grosso, estômago, bexiga e
vesícula biliar.
A
falta de observação direta era compensada com a imaginação.
Deixo aqui um fragmento de texto do médico português José Caetano Soares, que trabalhou em Macau durante muitos anos. Faz parte de «Notas sobre a Medicina Chinesa» e foi publicado pelo padre Manuel Teixeira no seu livro «A Medicina em Macau».
O tórax é fechado por três esternos, comporta o coração - órgão primordial, situado em pleno epigastro ou na parte alta da região do estômago e que, como particularidade, tem incluído um osso pequeno com a forma de uma sapeca (moeda). De cada lado estão suspensos à coluna os dois pulmões a constituir uma espécie de fole de 24 tubos, com grande número de orifícios, dos quais provém o som. A laringe atravessa-os no seu caminho para o coração. Dos órgãos abdominais, não só o fígado está separado e é independente da vesícula biliar, como o intestino delgado comunica com o coração, a urina atravessando aquele na sua trajectória para a bexiga. O rim, através da medula, liga-se com o cérebro.
Os centros nervosos praticamente não existem; só o cérebro, considerado como a continuação da medula, se chama por isso a medula do crânio. Não há diferença entre nervos e tendões, a ambos cabe a designação de «can».
Deixo aqui um fragmento de texto do médico português José Caetano Soares, que trabalhou em Macau durante muitos anos. Faz parte de «Notas sobre a Medicina Chinesa» e foi publicado pelo padre Manuel Teixeira no seu livro «A Medicina em Macau».
O tórax é fechado por três esternos, comporta o coração - órgão primordial, situado em pleno epigastro ou na parte alta da região do estômago e que, como particularidade, tem incluído um osso pequeno com a forma de uma sapeca (moeda). De cada lado estão suspensos à coluna os dois pulmões a constituir uma espécie de fole de 24 tubos, com grande número de orifícios, dos quais provém o som. A laringe atravessa-os no seu caminho para o coração. Dos órgãos abdominais, não só o fígado está separado e é independente da vesícula biliar, como o intestino delgado comunica com o coração, a urina atravessando aquele na sua trajectória para a bexiga. O rim, através da medula, liga-se com o cérebro.
Os centros nervosos praticamente não existem; só o cérebro, considerado como a continuação da medula, se chama por isso a medula do crânio. Não há diferença entre nervos e tendões, a ambos cabe a designação de «can».
Não
me vou alargar sobre a anatomia e a fisiologia, tal como são entendidas pela
medicina tradicional chinesa. Mencionarei apenas alguns órgãos principais e
deixarei para o fim uma referência breve ao papel do «triplo aquecedor».
Coração
- é o órgão principal e governa todas as vísceras. Está associado ao fogo, ao
verão e ao sul.
Localiza-se
«acima do fígado, baço e diafragma, tem a forma de uma flor de lótus e pesa 12
taéis.»
Fui
procurar o valor do tael. Equivale a pouco menos de 30 gramas. A estimativa
chinesa aproxima-se dos 250 a 400 gramas que pesa um coração saudável.
O
coração está ligado por tubos aos outros órgãos principais. Comanda o fluxo
sanguíneo e abriga o shen. Controla a atividade mental. É a sede do amor e da
afeição. É representado pela mitológica «ave escarlate».
O estado do coração revela-se pela língua e pela face
Curiosamente,
para os chineses, o pericárdio é um órgão independente, destinado a proteger o
coração.
Pulmões
– Governam o Qi. Por estarem expostos ao exterior, constituem o mais frágil dos cinco órgãos Yin.
Fazem
descer o Qi do ar pelo nariz, espalham-no e fazem subir os restos impuros do
Qi, disseminando-os no ar.
Controlam
a água do corpo. No movimento descendente, liquefazem a parte
gasosa do ar e enviam-na para os rins. No movimento ascendente, fazem evaporar o líquido, que se espalha, sob a forma de suor e doutras
secreções.
Têm
também um atributo moral: são a sede da equidade. Estão associados ao metal, ao
outono e ao oeste. O seu espírito toma a forma de um tigre.
Mostram-se
através do nariz e dos cabelos.
Baço
– é o órgão mais importante da digestão. Tem um papel de relevo no
aproveitamento da energia dos alimentos e na sua transformação em sangue e em
Qi. Mantém o sangue dentro dos vasos e encarrega-se do seu transporte por veias e artérias. Comanda os músculos, os tendões e os movimentos.
O
baço é a sede da confiança.
Está
associado ao elemento terra, aos meses que vão do fim do verão ao começo do
outono e à direção centro. É simbolizado pela fénix.
O seu estado mostra-se
pelos membros e pelos lábios. Se falta a harmonia ao Qi do baço, o doente deixa
de ser capaz de diferenciar os cinco sabores fundamentais (doce, amargo,
salgado, ácido e picante).
Fígado
– promove a harmonia do fluxo do sangue e do Qi pelo organismo. Ajuda a
digestão. Armazena o sangue, o qual «sobe» quando é necessário para o esforço
físico e regressa quando deixa de ser preciso.
É a sede da bondade.
Está
associado ao elemento madeira, à primavera e à direção leste.
É
representado pelo dragão.
Revela-se
pelas unhas e pela vista. Quando lhe falta a harmonia, as unhas tornam-se baças
e quebradiças e a vista falha, podendo tornar-se incapaz de diferenciar as
cores.
Rins
– Contribuem para a digestão e para a circulação da água e dos fluidos
orgânicos.
Por
armazenarem o Jing, a essência que regula a sucessão das fases da vida, são
considerados os guardiões da força vital.
Associam-se
ao elemento água, ao inverno e à direção norte.
São
representados por uma serpente com cabeça de dragão enrolada numa tartaruga.
Parece-nos
estranho serem considerados a sede da sabedoria, mas a medicina chinesa está
repleta de conceitos que parecem improváveis aos nossos olhos.
O
funcionamento inadequado dos rins prejudica as funções do Jing e traduz-se por
esterilidade, impotência sexual e envelhecimento precoce.
O
TRIPLO-AQUECEDOR é uma unidade funcional encarregada de produzir calor a partir
da transformação dos alimentos e de regular o equilíbrio térmico. A parte superior
engloba o diafragma, o coração e os pulmões. A parte média é constituída pelo
estômago e pelo baço. O aquecedor inferior assenta no fígado, rins, bexiga e
intestinos.
Cabe-lhe
controlar a atividade do Qi no organismo e a respiração. Regula ainda o fluido da
energia vital, do sangue e dos outros líquidos corporais, e a distribuição dos
nutrientes e do Qi. Alimenta a energia sexual.
Gravuras: retiradas do livro «Medicina Chinesa - em busca do equilíbrio perfeito».
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