MEDICINA CHINESA E OCIDENTAL
ALGUNS CONCEITOS PARALELOS
III
OS "ESPÍRITOS" DE GALENO
E O "QI" DOS MÉDICOS CHINESES
A
Medicina e a Magia nasceram de mãos dadas. Os vestígios desta geminação
persistem nas sociedades modernas. Quando era preciso explicar um fenómeno
incompreensível, recorria-se à intervenção dos espíritos.
Será
interessante procurar analogias entre os "espíritos" de Galeno e o Qi, ou energia
vital, dos médicos chineses.
Para
Cláudio Galeno, certos aspetos da fisiologia humana eram influenciados por
espíritos.
O
«espírito natural» permitia ao fígado transformar o quilo em sangue.
O
«espírito vital» nascia da combinação do calor inato do coração e do «pneuma»,
existente no ar inspirado. O sangue contido nas cavidades esquerdas do coração
seria conduzido pelas artérias aos órgãos e tecidos periféricos. O calor gerado
no coração e no sangue deveria ser dissipado pelos pulmões.
Finalmente,
o «espírito animal» era formado no cérebro e depois transmitido a todo o
organismo pelos nervos (que seriam estruturas ocas), para desencadear os
movimentos e receber as sensações.1
Passemos à medicina oriental.
Passemos à medicina oriental.
«Qi
é a matéria que está em vias de se tornar essência, ou a energia que se aproxima
da materialização». A definição não é de Einstein, mas aproxima-se da Teoria da
Relatividade.
Os
médicos chineses atribuíam ao Qi uma grande versatilidade funcional. Eram cinco
os seus tipos mais importantes.
O
Qi central, ou «mar de Qi» localizava-se no peito.
Havia o Qi de cada órgão e de cada víscera, com características determinadas por eles, e o Qi dos meridianos.
O
Qi protetor ou imunológico, que circulava, «forte e corajoso», defendendo o
organismos das agressões externas.
Por fim, o Qi nutriente, gerado no sangue, distribuiria a energia proveniente da transformação
dos alimentos por todo o corpo.
O Qi circula no organismo humano
como um fluxo contínuo que segue um percurso certo, equilibrado, durante o qual
vai sofrendo as alterações próprias da Natureza, passando de energia positiva
(Yang) a negativa (Yin), para regressar à primeira forma de acordo com as zonas
por onde passa e as influências que sofre do meio ambiente.
Se não houver obstáculos nocivos ao
fluir natural e harmonioso desta energia, o corpo mantém-se saudável. Quando
surge o desequilíbrio, cabe ao médico determinar onde falhou a energia e
corrigi-la com tratamentos adequados.2
Para além do Qi, e segundo os mestres chineses, intervêm na fisiologia humana duas outras «essências», mistas de espírito e matéria: o Jing e o Shen.
O Jing suporta a vida orgânica, intervindo na reprodução e no processo de crescimento. Compreende uma parte congénita e outra adquirida. É associado a um movimento orgânico mais lento que o resultante da ação do Qi.
O Shen costuma ser traduzido por «espírito», embora tenha um componente material. É a vitalidade, o motor que dinamiza o Qi e o Jing, ajudando ao funcionamento intelectual do homem. A dismnésia, a confusão mental e a inibição de ação são atribuídos à perturbação do Shen.
1 – A Arte de Sangrar de Cirurgiões
e Barbeiros. J. Barradas, Livros Horizonte, Lisboa, 1999.
2 – Medicina chinesa – Em busca do
equilíbrio perdido. C. Jorge e B. Coelho. Instituto Cultural de Macau e Círculo
de Leitores,1988.
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