MEDICINAS
TRADICIONAIS CHINESA E OCIDENTAL
TERAPÊUTICA
Nas
velhas medicinas de todos os cantos do mundo, o tratamento das doenças
constituiu mais um desejo que uma realidade. A Medicina nasceu associada à
Magia, enquanto a Astrologia influenciou todas as civilizações. Persiste, nos nossos dias, o uso de amuletos e a prática de defumações. Na Europa, apenas no
final do século XIX a medicina se apartou das previsões astrais.
Se
olharmos as terapêuticas utilizadas ao longo de milénios na China e na Europa,
encontraremos partes comuns e partes específicas.
A
parte comum reside na utilização de drogas com presumidos efeitos medicinais,
na dieta e na preocupação com o equilíbrio do organismo. O conceito de saúde
como estado de equilíbrio é partilhado pelas filosofias médicas hipocrática e
chinesa.
A
teoria humoral de Hipócrates influenciou a medicina europeia e árabe durante
mais de dois milénios. Escreveu o sábio grego: «O corpo humano contém sangue,
fleuma, bílis amarela e bílis negra. Estas são as coisas que o constituem e
causam o sofrimento ou a saúde».
O
equilíbrio proporcionado por uma combinação adequada dos humores era essencial
para a manutenção do estado de saúde. Existiriam, dentro e fora do organismo,
forças capazes de modificar as qualidades e a distribuição dos humores. Se uma
quantidade excessiva de um humor se acumulava em determinada região, o
organismo reagia, procurando eliminá-lo. «Expelia fleuma pelo nariz nas
constipações, bílis pelo vómito nas alterações digestivas, sangue na
expetoração nas doenças pulmonares, ou bílis negra pelas fezes, nas afeções
intestinais.»
O
médico procurava ajudar a natureza. Boa parte do esforço terapêutico era
dirigido no sentido da evacuação do excesso de humores. Usava-se e abusava-se
da sangria, da purga, dos clisteres, dos eméticos e dos sudoríferos.
Os
chineses procuraram, desde sempre, a harmonia com o universo. Viver seria
adaptar-se à ordem natural das coisas.
Enquanto
na Europa se procurava restabelecer o equilíbrio dos humores, na China eram as
energias que se deveriam harmonizar. O estado de saúde consistia no fluir
adequado do Yin e do Yang.
A
doença ocorria quando um dos tipos de energia se acumulava em excesso num órgão, ou numa zona do organismo.
A
noção de equilíbrio começou por influenciar a dieta, a que os chineses deram,
desde sempre, uma atenção especial. Procuravam a prevenção. A dieta variava
consideravelmente com as estações do ano. A partir do outono, quem dormia com
os pés gelados podia precaver-se comendo sopa de carne de cobra com pétalas de
crisântemo.
À
dieta, associava-se a ginástica, como meio de preservar a saúde. Os exercícios
físicos praticados por um grande número de chineses procuravam corrigir a
respiração. O T`ai Kek sucedeu, em muitas regiões da China, ao Qigong, que
visava promover no organismo a boa circulação da energia Qi. O exercício
contribuiria também para o alívio da tensão psicológica.
Para
além das dietas e do exercício físico (tanto terapêuticas como profiláticas),
os principais métodos terapêuticos da medicina tradicional chinesa são a
acupuntura, a moxabustão, a ventosoterapia, o Tui Na e a fitoterapia.
As
três primeiras técnicas foram referidas de forma sumária nos artigos
precedentes.
O
Tui Na é uma forma de massagem que pretende estimular pontos determinados nos
meridianos do doente. Está, assim, associada à acupuntura.
Os
chineses consideravam que o corpo humano dispunha de um conjunto adequado de
defesas. Era capaz de identificar as zonas doentes e de resolver a maioria dos
desequilíbrios encontrados. A medicação era apenas utilizada quando falhavam as
defesas naturais.
No
século XVI, o médico Li Shizhen reviu a farmacopeia até então conhecida na
China. Encontrou 443 produtos derivados de animais, 1.074 substâncias vegetais
e 354 produtos minerais. Eram 50 as ervas fundamentais. Tal como na Europa, a
complexidade de certas mezinhas era notável.
As
formulações eram diversas, ocorrendo certo paralelismo nas formas de
administrar a medicação. A Farmacopeia Lusitana publicada em 1704 por D.
Caetano de Santo António, Boticário do Real Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, foi
a primeira escrita em língua portuguesa. Faz referência a águas, vinhos,
vinagres, xaropes, infusões, electuários, emplastros, mucilagens, óleos,
pedras, metais, pílulas, pós, teriagas e zaragatoas.
Os
chineses veiculavam os produtos terapêuticos através de chás, caldos, pílulas, pomadas,
bálsamos, cataplasmas, macerados em vinho e massas fermentadas.
Criaram-se
algumas expectativas quanto ao desenvolvimento de novos medicamentos a partir
das plantas utilizadas na medicina tradicional chinesa. Por enquanto, os
resultados são pouco animadores. A maioria das plantas orientais não possui as
virtudes terapêuticas que lhe foram atribuídas.
Bibliografia:
Medicina chinesa- em busca do equilíbrio perdido. Jorge, C. e Coelho, B. Instituto Cultural de Macau e Círculo de Leitores, 1988.
A Arte de Sangrar de Cirurgiões e Barbeiros. Barradas, J. Livros Horizonte, Lisboa, 1999.
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