MORTE DE UM NEUROCIRURGIÃO
EM CATIVEIRO
Ninguém
sabe que porção de realidade se esconde atrás das lendas. O escritor chinês Luo
Ghuanzhong escreveu, no século XIV, «O romance dos três reinos» que glorifica a
figura do médico e cirurgião Hua Tuo, encarcerado até à morte por ordem do general Cao
Cao. Cao sentou-se num dos três tronos que resultaram do desmembramento do
império Han.
Representação de Cao Cao
Hua
Tuo tem, para os chineses, um prestígio incomparável. É o patrono da cirurgia. Foi deificado e as suas imagens são veneradas em
muitos tempos taoistas, inclusive em Macau.
Estatueta de Hua Tuo
«Hua Tuo reincarnado» é uma
expressão usada na China para elogiar um médico de reputação extraordinária.
Hua
é o nome de família e Tuo o próprio. Terá vivido entre os anos 140 e 208 d.C.,
testemunhando a passagem da dinastia Han à era dos Três Reinos. É considerado
pioneiro na cirurgia abdominal. Julga-se que foi o primeiro cirurgião do mundo
a operar com anestesia geral.
Terá executado também trepanações.
A
sua formulação anestésica não foi transmitida à posteridade. Pensa-se que usou, dissolvido em aguardente de arroz, um
preparado de ervas chamado «mafeisan». A tradução literal
de «mafeisan» é «pó de cannabis cozido».
A
tradição adicionou à sua obra uma série de pontos novos para acupuntura e a
invenção de suturas, de unguentos anti-inflamatórios e de remédios para a
ascaridíase.
A
trepanação foi aprovada por Hipócrates para o tratamento de feridas cranianas.
Não há indícios de que o médico de Cós a tenha praticado pessoalmente.
Cao
Cao sofria de dores de cabeça recorrentes e mandou chamar Hua Tuo para o
tratar. O médico utilizou técnicas de acupuntura e obteve resultados
apreciáveis. Preveniu o poderoso doente de que seriam necessários novos
tratamentos.
Passado
algum tempo, Hua Tuo voltou a ser chamado. O general Cao estava pior.
Neste
ponto da narrativa, as transcrições diferem. Segundo uma delas, Hua Tuo
demorou-se, alegando que sua esposa estava doente. Terá sido levado à força
pelos soldados de Cao.
É
a outra versão que nos agrada tomar por real. Face à persistência das queixas do
senhor da guerra, o grande médico propôs-se trepaná-lo. Não é de crer que se
dispusesse a uma intervenção cirúrgica de risco certo e resultado duvidoso sem
dispor de grande experiência na sua execução. Desse modo, será a primeira vez
na História da Medicina que a trepanação aparece associada ao nome do cirurgião que a praticou.
Cao
Cao era homem desconfiado. Achou que o médico planeava assassiná-lo e atirou-o
para as masmorras, onde acabou por morrer. Terá sido executado.
O
Romance não indica a data certa da morte de Hua Tuo, mas terá sido em 208 ou
antes.
Os
seus conhecimentos perderam-se. A anestesia demoraria muitos séculos a ser
reinventada e a cirurgia chinesa regrediu consideravelmente.
O «Romance dos Três Reinos» conta que, antes de morrer, Hua Tuo confiou a um carcereiro o livro em que registara o seu saber. Cheia de medo, a mulher do carcereiro pôs fogo ao livro. O marido foi apenas capaz de recuperar as folhas que descreviam o método de castração de patos e galos. Esse e os pontos novos de acupuntura são os ensinamentos de Hua Tuo que persistem hoje.
O «Romance dos Três Reinos» conta que, antes de morrer, Hua Tuo confiou a um carcereiro o livro em que registara o seu saber. Cheia de medo, a mulher do carcereiro pôs fogo ao livro. O marido foi apenas capaz de recuperar as folhas que descreviam o método de castração de patos e galos. Esse e os pontos novos de acupuntura são os ensinamentos de Hua Tuo que persistem hoje.
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