Histórias da Medicina Portuguesa

No termo de uma vida de trabalho, todos temos histórias a contar. Vamos também aprendendo a ler a História de um modo pessoal. Este blogue pretende viver um pouco da minha experiência e muito dos nomes grandes que todos conhecemos. Nos pequenos textos que apresento, a investigação é superficial e as generalizações poderão ser todas discutidas. A ambição é limitada. Pretendo apenas entreter colegas despreocupados e (quem sabe?) despertar o interesse pela pesquisa mais aprofundada das questões que afloro.
Espero não estar a dar início a um projecto unipessoal. As portas de Histórias da Medicina estão abertas a todos os colegas que queiram colaborar com críticas, comentários ou artigos, venham eles da vivência de cada um ou das reflexões sobre as leituras que fizeram.

domingo, 18 de junho de 2017

DEMÊNCIA E EUTANÁSIA*
 

II

DIAGNÓSTICO

Já falei dos testes psicológicos.
Para além de caracterizarem a doença com grande aproximação, os exames de imagem são indispensáveis para excluir outras causas de demência, como tumores cerebrais, hematomas subdurais crónicos, demência por multi-enfarte e hidrocefalia.
Na Doença de Alzheimer, os sulcos cerebrais estão alargados e o terceiro ventrículo e os ventrículos laterais aumentam de volume. Na parte interna dos lobos temporais ocorre uma atrofia desproporcionada dos hipocampos.
    Isso é bem aparente na Ressonância Magnética Nuclear crânio-encefálica. É nela que assenta geralmente o diagnóstico imagiológico da doença de Alzheimer. 

              Imagem retirada de The Lancet - Neurology - vol, 14, nº 10, oubtubro 2015.

Podem usar-se outros exames de imagem. A TAC, recorrendo a cortes oblíquos que passam pelos hipocampos, dá informações semelhantes.
A Tomografia de Emissão Positrónica (PET) e A Single-photon Emission Computed Tomography (SPECT) mostram redução do fluxo sanguíneo em áreas específicas do cérebro. São caras, sendo usadas em investigação, não tendo entrado na prática clínica.
O E.E.G. tem um interesse limitado. Mostra ondas lentas difusas (teta e delta) nos estádios avançados da doença.   
O diagnóstico clínico de doença de Alzheimer não tem uma precisão absoluta, mas é bastante aproximado. É correto em 85 a 90% dos casos.

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DE DOENÇA DE ALZHEIMER

(NINDS – National Institute for Neurological and Communicative Disorders Association e ADRDE – Alzheimer`s Disease and Related Diseases Association)

Demência definida pela observação clínica, Mini-mental ou outra escala de avaliação psicológica
Idade superior a 40 anos
Défice em duas ou mais áreas cognitivas  
Deterioração progressiva da memória e de outras funções cognitivas, como linguagem perceção e habilidades motoras (praxis)
Ausência de perturbação da consciência
Exclusão de outras doenças cerebrais.

Em matérias como esta, todo o cuidado é pouco. Verificou-se que 10 % dos doentes referidos para uma clínica neurológica com diagnóstico de demência sofriam de outras perturbações, psiquiátricas ou metabólicas, potencialmente reversíveis.


É essencial eliminar a possibilidade de existência de doenças que se tratam geralmente com eficácia, como lesões cerebrais ocupando espaço, sífilis, deficiências nutricionais, intoxicações crónicas por drogas, incluindo o álcool, e a pseudo-demência da depressão.
O diagnóstico de certeza é histológico. Faz-se por biopsia ou pela autópsia. Os patologistas encontram depósitos de material amorfo (substância amiloide) espalhadas ao longo do córtex cerebral. São as chamadas placas senis ou neuríticas. Há degenerescência neurofibrilhar (emaranhado neuronal) no citoplasma das células nervosas.
TRATAMENTO
Atualmente, não há cura para a doença de Alzheimer. Alguns medicamentos parecem diminuir o seu progresso, especialmente nos estádios iniciais. Outros ajudam a tratar as mudanças de humor e outros problemas de comportamento.
Foi detetada em doentes com Alzheimer redução da acetiltransferase da colina e da acetilcolina.
O donepezilo (Aricept), a galantamina (Reminyl) e a rivastigmina (Exelon) são inibidores da acetilcolinesterase. Podem melhorar o funcionamento do cérebro nos estádios iniciais da doença de Alzheimer e atrasar a rapidez com que os sintomas pioram.
A memantina (Ebixa) é um antagonista dos recetores do glutamato, que as células danificadas por Alzheimer produzirão em demasia. A droga parece proteger contra danos nervosos e tem menos efeitos colaterais do que outras drogas. Pode evitar que sintomas moderados a graves piorem rapidamente.
De modo geral, estes medicamentos podem associar-se. Quando há depressão, utilizam-se antidepressivos, em especial os receptores seletivos da receção de serotonina, como a fluoxetina e a paroxetina.


*Parte da conferência proferida a 17/6/017, na Casa da Baía, em Setúbal.

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