Histórias da Medicina Portuguesa

No termo de uma vida de trabalho, todos temos histórias a contar. Vamos também aprendendo a ler a História de um modo pessoal. Este blogue pretende viver um pouco da minha experiência e muito dos nomes grandes que todos conhecemos. Nos pequenos textos que apresento, a investigação é superficial e as generalizações poderão ser todas discutidas. A ambição é limitada. Pretendo apenas entreter colegas despreocupados e (quem sabe?) despertar o interesse pela pesquisa mais aprofundada das questões que afloro.
Espero não estar a dar início a um projecto unipessoal. As portas de Histórias da Medicina estão abertas a todos os colegas que queiram colaborar com críticas, comentários ou artigos, venham eles da vivência de cada um ou das reflexões sobre as leituras que fizeram.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014



                 LEONARDO DA VINCI 
      O PRIMEIRO GRANDE ANATOMISTA

                                                 II


  Naquela época, médicos e artistas andaram associados. Entre  1510 e 1511, da Vinci estabeleceu amizade com o médico Marcantonio della Torre, um jovem professor de Anatomia da Universidade de Pádua. Pádua dista 32 quilómetros de Milão.  



Marcantonio conhecia os ensinamentos de Galeno. Curiosamente, as obras originais de Galeno de Pérgamo eram desconhecidas até à generalização da imprensa, na década de 1470, havendo apenas o recurso às traduções feitas por árabes.



A teleologia de Galeno marcou profundamente Leonardo. A teleologia é um conceito filosófico comum a Platão, Aristóteles, Kant, Jung e Hegel. Sustenta que as causas finais existem na natureza e que a natureza tende para fins determinados. «Toda a parte tem uma função e nada é supérfluo numa criação divina».
Da Vinci e della Torre produziram em conjunto um trabalho sobre anatomia, para o qual Leonardo contribuiu com duzentos desenhos. Algumas lâminas magníficas foram agrupadas no chamado Manuscrito anatómico A.


Era a maturidade do anatomista. Alegadamente influenciado por Marcantonio, em vez de interpretar o que observava à luz dos fracos conhecimentos de que dispunha, Leonardo passou a retratar com precisão os pormenores dos corpos humanos que dissecava. Nascera a anatomia moderna.



Marcantonio della Torre foi ceifado pela peste em 1511, com cerca de 30 anos. Este alto-relevo de Riccio está no Museu do Louvre e representa a morte do anatomista. Não tivesse ele falecido tão cedo e Leonardo teria provavelmente chegado mais longe no entendimento da fisiologia.
No esforço de compreender o corpo humano Leonardo caminhou da superfície para a profundidade.
Estudou e pintou as veias superficiais



os músculos



desenhou de forma magnífica o esqueleto humano



incluindo os ossos do crânio



Observou, desenhou e esforçou-se por compreender o funcionamento do aparelhos respiratório



digestivo



urinário



reprodutor masculino



e feminino



e os sistemas circulatório



e nervoso.



O papel era caro e havia que aproveitá-lo. Nesta lâmina, o artista misturou os músculos dum membro inferior com estudos da língua, laringe, traqueia e esófago.



          Leonardo da Vinci pintava




fazia projetos de arquitetura civil



e militar


desenhava máquinas



e até um tanque de guerra



e sonhava com o voo.


Teve ainda tempo para se dedicar à cartografia. Este desenho da Toscânia data de 1502 e mostra as cidades de Arezzo, Perugia, Chuisi e Siena. O artista procurou dar ao seu trabalho o aspeto duma vista aérea. 




                                                                               (Continua)

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