Histórias da Medicina Portuguesa

No termo de uma vida de trabalho, todos temos histórias a contar. Vamos também aprendendo a ler a História de um modo pessoal. Este blogue pretende viver um pouco da minha experiência e muito dos nomes grandes que todos conhecemos. Nos pequenos textos que apresento, a investigação é superficial e as generalizações poderão ser todas discutidas. A ambição é limitada. Pretendo apenas entreter colegas despreocupados e (quem sabe?) despertar o interesse pela pesquisa mais aprofundada das questões que afloro.
Espero não estar a dar início a um projecto unipessoal. As portas de Histórias da Medicina estão abertas a todos os colegas que queiram colaborar com críticas, comentários ou artigos, venham eles da vivência de cada um ou das reflexões sobre as leituras que fizeram.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015




    DE HUMANIS CORPORI FABRICA

  

      UMA INTRODUÇÃO À OBRA DE VESÁLIO


                                 I


   Quando, no último dia de 2014, publiquei aqui um pequeno artigo a assinalar o quinto centenário do nascimento do grande anatomista André Vesálio, prometi voltar a falar da sua figura e dos seus trabalhos. É o que faço agora. O texto que se segue tem ambições modestas. As fontes de que me servi foram limitadas. Não adquiri livros, não me levantei da cadeira em que me sento quando escrevo, nem saí do espaço virtual para fazer investigações. Tudo o que li está na Internet. O meu objectivo é divulgar a importância da obra de Vesálio e o reflexo que teve na Medicina dos nossos dias.


  A Fabrica não foi o único trabalho publicado por André Vesálio. Antes e depois dele, o anatomista produziu outros escritos de menor fôlego. 


   Na Paraphrasis in nonum librum Rhazae ad Regem Almansorem (Lovaina, 1537), Vesálio comparou as concepções terapêuticas galénica com as do médico e alquimista árabe Rhazes (854-925) sem se comprometer. 

                         Imagem fictícia de Rhazes

  Inclinou-se para o lado de Galeno, respeitando, contudo as opiniões de Rhazes. 
    No ano seguinte, apresentou, em Veneza, as Tabulae anatomicae sex.Tratava-se de seis grandes desenhos anatómicos feitos por ele próprio, com base nas suas dissecções. 


   Destinavam-se a facilitar o estudo aos seus alunos e representavam as veias cava e porta, as artérias e o sistema nervoso. 
   Ainda em 1538, fez sair uma edição revista e aumentada do manual de disseção de Guinter de Andemach, seu antigo professor em Paris. 
   Em 1539, Vesálio publicou em Basileia um trabalho em que expunha a sua opinião sobre a sangria: Epistola docens venam axillari dextri cubiti in dolore laterali secundam.
   Em 1546, opinaria sobre a terapêutica médica num artigo bastante contestado, intitulado Epistola rationem modunque propinandi radices chynae.


   Em 1543, imediatamente antes da publicação da Fabrica, fez imprimir o Epitome, provavelmente uma das suas obras menos conhecidas. Tratava-se de um resumo da Fabrica, destinado aos seus alunos e preparado segundo uma concepção revolucionária de ensino. 


   A segunda parte do livro, escrito em latim, era composta por onze gravuras anatómicas com índices. O leitor era convidado a recortar as duas últimas e a colá-las nas anteriores, emprestando aos desenhos uma dinâmica até então desconhecida nas universidades. 

                                 Falópio

   Em 1564, André Vesálio fez editar em Veneza o trabalho a que chamou Anatomicarum Gabrielis Fallopii observationem examen, em que aceitava parte da críticas que Falópio lhe dirigira e refutava outras.


  Apesar de terem importância científica e histórica, esses trabalhos foram eclipsados pela publicação, em 1543, da sua obra monumental De humani corporis fabrica, que teria uma segunda edição revista em 1555.
   Vesálio levou dois anos a completar a Fabrica. Recorreu a ilustradores da oficina de Ticiano. Diz-se que as tábuas anatómicas (não assinadas) foram desenhadas por Jan Stephen van Calcar, mas não existe consenso quanto a isso. 
  Não foram descuradas a preparação das gravuras em madeira nem o trabalho de impressão, que o anatomista encomendou a Joannes Oporinus, em Basileia.
                                                                                                            
 (Continua)


Sem comentários:

Enviar um comentário