Histórias da Medicina Portuguesa

No termo de uma vida de trabalho, todos temos histórias a contar. Vamos também aprendendo a ler a História de um modo pessoal. Este blogue pretende viver um pouco da minha experiência e muito dos nomes grandes que todos conhecemos. Nos pequenos textos que apresento, a investigação é superficial e as generalizações poderão ser todas discutidas. A ambição é limitada. Pretendo apenas entreter colegas despreocupados e (quem sabe?) despertar o interesse pela pesquisa mais aprofundada das questões que afloro.
Espero não estar a dar início a um projecto unipessoal. As portas de Histórias da Medicina estão abertas a todos os colegas que queiram colaborar com críticas, comentários ou artigos, venham eles da vivência de cada um ou das reflexões sobre as leituras que fizeram.

terça-feira, 7 de junho de 2016


MNEMÓNICAS

Vão longe os tempos em que estudava Anatomia na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. O livro de texto era o gordo Textut, embora a maior parte dos estudantes aprendesse quase tudo pelo “Precis”, que não tinha ilustrações e era bem mais elegante.


Recorríamos com frequência a mnemónicas. Julgo que quase todos criávamos as nossas próprias, mas havia as que se tornavam populares e circulavam através de gerações. 
A artéria maxilar interna foi agraciada com duas das mais famosas auxiliares de memória conhecidas. Uma permitia fixar os ramos colaterais ascendentes da artéria maxilar interna: Tu, Minha menina, Pequena menina, Tens profunda mágoa, Tens profundo amor. (Timpânica, Meníngea média, Pequena meníngea, Temporal profunda média, Temporal profunda anterior.)


Outra, também muito usada, ajudava a lembrar os seus ramos colaterais descendentes: Doente infeliz Mandou Buscar Peras Para si (Dentária inferior, Masseterina, Bucal, Pterigoideia, Palatina superior).
Apenas as mais interessantes se generalizavam, mas criavam-se muitas pessoais. Era assim que eu recordava os nomes dos pares cranianos: Olha Oh pá Mamas Para Três Minha Filha Ai Glória Não Me Esperes Hoje (Olfativo, ótico, motor ocular comum, Patético, Trigémeo, Motor ocular externo, Facial, Auditivo, Glossofaríngeo, Pneumogástrico, Espinhal e Hipoglosso).   
Havia outras, para variados órgãos e gostos. Salazar Deu o Cu e Ficou Virgem permitia lembrar as túnicas que envolviam o testículo. Se bem me lembro, eram Scrotum, Dartos, Celulosa, Fibrosa e Vaginal. Fico com a sensação de que me falta uma…
Desconheço o modo de ensinar e aprender Anatomia nos dias de hoje. Espero que o processo esteja mais racionalizado e que não seja exigido aos jovens um esforço de memorização tão intenso e prolongado que se pode revelar, mais tarde, parcialmente inadequado ou pouco útil. No meu tempo, os três primeiros anos eram usados para adquirir conhecimentos básicos e uma linguagem própria que permitisse o acesso às bem mais interessantes cadeiras clínicas. Talvez fosse por isso que eu e muitos como eu só passássemos a gostar verdadeiramente do Curso a partir do quarto ano.


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