Histórias da Medicina Portuguesa

No termo de uma vida de trabalho, todos temos histórias a contar. Vamos também aprendendo a ler a História de um modo pessoal. Este blogue pretende viver um pouco da minha experiência e muito dos nomes grandes que todos conhecemos. Nos pequenos textos que apresento, a investigação é superficial e as generalizações poderão ser todas discutidas. A ambição é limitada. Pretendo apenas entreter colegas despreocupados e (quem sabe?) despertar o interesse pela pesquisa mais aprofundada das questões que afloro.
Espero não estar a dar início a um projecto unipessoal. As portas de Histórias da Medicina estão abertas a todos os colegas que queiram colaborar com críticas, comentários ou artigos, venham eles da vivência de cada um ou das reflexões sobre as leituras que fizeram.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

LEONARDO DA VINCI - O ANATOMISTA

SEGUNDA PARTE - A VISÃO

Porque será que os olhos conseguem ver uma coisa com mais clareza em sonhos do que a nossa imaginação quando estamos acordados? 


Como seria de esperar de um pintor que regista as suas reflexões, a luz, a sombra, a percepção visual e a perspectiva ocupam muitas páginas dos escritos de da Vinci. Os conhecimentos de óptica do seu tempo estão bem aparentes nos seus apontamentos.


Leonardo esforçou-se por compreender a fisiologia da visão, mas ainda era cedo para o conseguir. 


Numa primeira fase, os seus desenhos sobre o funcionamento do cérebro reflectem ainda a influência de Aristóteles. Leonardo considera a visão o mais importante dos sentidos e preocupa-se com o encaminhamento das impressões visuais. 
O desenho de um dos seus cortes de crânio mostra os nervos ópticos a dirigirem-se para uma sucessão de três ventrículos. Os sinais seriam primeiro recebidos e depois interpretados. Uma parte deles seria, a seguir, memorizada. 


Demos a palavra ao artista:

Os olhos dos animais têm pupilas que se dilatam e diminuem, de acordo com a maior ou menor quantidade de luz do sol ou de outra fonte. O homem, cuja visão é mais fraca do que a doutros animais, é menos afectado por uma fonte de luz intensa e as suas pupilas aumentam pouco nos ambientes escuros. No homem, as cavidades oculares são uma parte pequena da cabeça, os nervos ópticos são muito finos, compridos e fracos, e porque são fracos conseguem ver durante o dia, mas muito mal à noite. 

Para chamar compridos aos nervos ópticos, Leonardo deve tê-los confundido com algum dos pares oculomotores.

O olho, que vê todos os objectos invertidos, retém as imagens durante algum tempo. Conservará melhor dentro de si mesmo a imagem de um corpo luminoso do que de um objecto sombrio.

Nas frases seguintes, o poeta parece espreitar pelos olhos do pintor.

Diz-se que o lobo tem o poder, através do olhar, de fazer com que os homens fiquem com vozes roucas. Diz-se que o basilisco, tem o poder, através do olhar, de retirar a vida a todas as coisas com vida. Diz-se que a avestruz e a aranha chocam os seus ovos olhando para eles. Diz-se que as donzelas têm o poder, através do olhar, de atrair o amor dos homens para elas próprias. 




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