A mulher era mais elegante do que magra. Andaria pelos quarenta anos e conservava um rosto bonito. O marido estava emigrado na Alemanha e só vinha a Portugal em Agosto e Dezembro.
O que melhor lembro dela é a mistura de força e de fraqueza, de coragem e de vontade de desistir. Quase todos somos um pouco assim, mas aquela senhora parecia transparente, como se tivesse a pele de vidro e qualquer um lhe pudesse espreitar as emoções.
Falou sem dizer. Contou coisas sem interesse. Via-se que tinha dificuldade em expor o problema que a tinha levado a pagar a consulta.
Aguardei.
Depois de vários rodeios, endireitou-se na cadeira e declarou:
- Senhor doutor! Antes de mais, quero que saiba que não pretendo nada de si!
Julguei que a doente me ia contar um segredo. Seria importante para ela mas, ao longo dos anos, os médicos escutam confidências demais. Se puderem, até lhes fogem.
Olhei o relógio. Estava a atrasar-me. Procurei evitar uma expressão de desinteresse.
- Senhor doutor! Eu quero apenas saber se me pode receitar um vibrador pela A.D.S. E.
Disse-lhe que não.
Ignoro se foi a minha postura ou a indisponibilidade da protecção social aos funcionários da Administração Pública que a desapontou. O certo é que não voltou ao consultório.
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